Perspectiva intercultural em práticas de formação de docentes indígenas

Tânia Ferreira Rezende, Eunice Moraes da Rocha Rodrigues

Resumo


O objetivo deste artigo é discutir o estatuto do Português Intercultural, língua de relações interculturais, na licenciatura em Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás. Mais especificamente, visa-se discutir sobre como os docentes indígenas nas aulas de Português Intercultural estão significando e conceituando ideologias linguísticas coloniais, tais como linguagem, língua, escrita e padrão linguístico, transformadas em instrumento político de resistência em suas lutas cotidianas. A sustentação empírica são as práticas linguísticas orais e escritas de docentes indígenas, documentadas nas aulas de Português, em 2014 e 2015, e em publicações em livros e periódicos da área. A leitura dos textos é orientada pelos princípios do Paradigma Indiciário (GINZBURG, 2016), e a interpretação dos resultados é fundamentada nos pressupostos da Decolonialidade e pela concepção de língua como prática social. Os resultados mostram que o diálogo intercultural decolonial, nas relações de poder linguístico, não prescinde das estratégias de dominação das próprias forças dominadoras. 


Palavras-chave


Decolonialidade; Interculturalidade; Formação de docentes indígenas; Português intercultural; Ideologia linguística

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DOI: https://doi.org/10.15210/rle.v23i4.18551

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Qualis: A1 (Letras, 2016)

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