Em entrevista a Guy Damur, intitulada “esta linguagem que faz a história”, Émile Benveniste responde acerca do comentário de que Saussure seria um começo, afirmando que Saussure “não é um começo, ele é outra coisa, ou é um outro tipo de começo” (p. 31). A grande contribuição da linguística saussuriana, segundo Benveniste, consistiria na tese de que “a linguagem […] é forma, não substância” (p. 31). Essa tomada de posição se coaduna com a observação de que a linguística, ao contrário de outras ciências, ocupa-se não do objeto, nem de sua substância, mas tão somente da forma. Tal constatação tem como seu avatar a teoria do valor, segundo a qual “os dados de linguagem não existem senão por suas diferenças, eles não valem senão por suas oposições” (p. 31). Dessa forma, pode-se afirmar que “uma palavra, por si mesma, não significa nada” (p. 31), afirmação esta também sustentada por Oswald Ducrot e colaboradores. A grande revolução de Saussure, para Benveniste, consiste em sua reação à consideração histórica que prevalecia em linguística. Para o linguista genebrino, a história não seria necessariamente uma dimensão da língua, pois a história seria apenas uma das suas dimensões. Isso significa dizer que não seria a história que daria vida à linguagem, mas o inverso: “a linguagem que, por sua necessidade, sua permanência, constitui a história” (p. 32) Percebem-se, nessas constatações, alguns princípios que erigem o pensamento teórico de Saussure e que sustentam, em grande medida, a linguística desenvolvida no século XX, tanto no que concerne àquela mais formal, quanto àquela que busca uma abertura para os estudos da enunciação, do texto, do discurso. A constante renovação de olhar em direção à obra saussuriana suscitada pela descoberta de novos manuscritos e de novas fontes aguçam a percepção de que se está diante de uma obra viva, complexa, em movimento e em busca de novos sentidos. Com o objetivo de lançar luzes para o caráter fundador dessa obra, bem como para a sua complexidade e seu movimento, esta chamada busca congregar trabalhos que atentem para os efeitos e desdobramentos interpretativos do legado saussuriano produzidos durante os séculos XX e XXI.
Organizadores: Daiane Neumann (UFPEL), Lauro Gomes (FURG), Luiza Ely Milano (UFRGS)
Prazo para submissão: 10/03/2023 Provável período de publicação: 2º semestre de 2023 Atenção às diretrizes da revista: https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/linguagem/about/submissions |