O processo de ensino-aprendizagem de português escrito para surdos em sessões de tandem

Quintino Martins de Oliveira, Francisco José Quaresma de Figueiredo

Resumo


Este artigo tem por objetivos analisar as interações entre alunos surdos e ouvintes, verificar que estratégias os ouvintes usaram para auxiliar a aprendizagem de português escrito pelos surdos, durante sessões de tandem face a face, bem como obter as percepções dos surdos acerca de sua participação nessas sessões. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, e os dados foram coletados em três sessões de tandem, no primeiro semestre de 2017, por meio de gravações em vídeo dessas sessões, bem como de entrevistas realizadas com os participantes surdos. Os resultados indicam que as interações possibilitaram aos surdos aprender português escrito de forma eficaz quando os ouvintes usavam recursos visuais que facilitaram esse processo. Em contrapartida, o uso de oralização e de gestos, por parte dos ouvintes, durante as interações, dificultou a aprendizagem dos surdos. Concluímos que a abordagem em tandem, muito utilizada com línguas orais, é também favorável no ensino-aprendizagem de português escrito para surdos.

Palavras-chave


Aprendizagem colaborativa; Português para surdos; Ensino-aprendizagem da escrita; Português escrito; Aprendizagem de línguas em tandem.

Texto completo:

PDF

Referências


ALMEIDA, D. L. de; LACERDA, C. B. F. de. Português como segunda língua: a escrita de surdos em aprendizagem coletiva. Trabalho em Linguística Aplicada, v. 58, n. 2, p. 899-917, 2019. https://doi.org/10.1590/010318138653579436691

ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. (org). Processos de ensinagem na universidade: pressupostos e estratégias de trabalho em sala de aula. 3. ed. Joinvile: UNIVILLE, 2004.

BENEDETTI, A. M.; RODRIGUES, D. G. Choques linguístico-culturais e o desenvolvimento da competência intercultural em teletandem. In: BENEDETTI, A. M.; CONSOLO, D. A.; VIEIRA-ABRAHÃO, M. H. (org.). Pesquisas em ensino e aprendizagem no teletandem Brasil: línguas estrangeiras para todos. Campinas: Pontes, 2010. p. 89-104.

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.

BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1998.

BOTELHO, P. Linguagem e letramento na educação de surdos: ideologias e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

BRAMMERTS, H. Aprendizagem autónoma de línguas em tandem: desenvolvimento de um conceito. In: DELILLE, K. H.; CHICHORRO, A. (org.). Aprendizagem autónoma de línguas em tandem. Lisboa: Colibri, 2002. p. 15-25.

BRUFFEE, K. A. Collaborative learning: Higher education, interdependence, and the authority of knowledge. London: The Johns Hopkins University Press, 1999.

CALIXTO, H. R. S.; RIBEIRO, A. E. A.; RIBEIRO, A. A. Ensino de língua portuguesa escrita na educação bilíngue de surdos: questões a partir de narrativas de professores da Baixada Fluminense. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 100, n. 256, p. 578-593, 2019. http://dx.doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.100i256.4021

CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D.; MAURÍCIO, A. C. L. DEIT-LIBRAS - Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue. Volume 1. 3. ed. São Paulo, SP.: Edusp, 2013.

CICCONE, M. M. C. Comunicação total: introdução, estratégia, a pessoa surda. Rio de Janeiro: Editora Cultura Médica, 1990.

FELIPE, T. Política públicas para inserção da Libras na educação de surdos. Revista Informativo Científico Espaço – INES, Rio de Janeiro, n. 25/26, p. 33-47, 2006.

FERNANDES, E. Linguagem e surdez. Porto Alegre: Artmed, 2003.

FERNANDES, S. F. Educação bilíngue para surdos: identidades, diferenças, contradições e mistérios. 2003. 202 f. Tese (Doutorado em Letras) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.

FIGUEIREDO, F. J. Q. de. Aprendendo com os erros: uma perspectiva comunicativa de ensino de línguas. 3. ed. rev. ampl. Goiânia: Editora UFG, 2015.

FIGUEIREDO, F. J. Q. de. A aprendizagem colaborativa de línguas: considerações conceituais e aplicações em distintos contextos. In: FIGUEIREDO, F. J. Q. de. (org.). 2. ed. rev. ampl. A aprendizagem colaborativa de línguas. Goiânia: Editora UFG, 2018. p. 13-57.

FIGUEIREDO, F. J. Q. de. Vygotsky – a interação no ensino-aprendizagem de línguas. São Paulo: Parábola, 2019.

FIGUEIREDO, F. J. Q. de; OLIVEIRA, Q. M. de. A deaf and a hearing student learning Portuguese and Libras in a tandem context. Revista do GEL, v. 15, p. 58-72, 2019. http://dx.doi.org/10.21165/gel.v15i3.2389

FIGUEIREDO, F. J. Q. de.; OLIVEIRA-SILVA, C. M. de. Uma análise da eficácia das estratégias de ensino utilizadas por uma professora ministrando aulas de inglês instrumental para alunos surdos em uma sala de aula inclusiva na universidade. In: FIGUEIREDO, F. J. Q. de.; SIMÕES, D. (org.). Linguística Aplicada, prática de ensino e aprendizagem de línguas. Campinas: Pontes, 2016. p. 235-282.

FIGUEIREDO, F. J. Q. de.; OSÓRIO, P.; MIRANDA, F. Contribuições da linguística aplicada para o ensino e a aprendizagem de português como língua estrangeira. In: FERRREIRA, M. C. F. D.; REICHMANN, C. L.; ROMERO, T. R. S. (org.). Construções identitárias de professores de línguas. Campinas, SP.: Pontes, 2016. p. 103-120.

FIGUEIREDO, F. J. Q. de.; SILVA, S. V. da. Do tandem ao teletandem: estudos sobre o uso da colaboração na aprendizagem de línguas em contexto virtual. In: JORDÃO, C. M. (org.). A linguística aplicada no Brasil: rumos e passagens. Campinas: Pontes, 2016. p. 309-336.

GARCIA, D. N. M. O que os pares de Teletandem (não) negociam: práticas para um novo contexto online interativo para o ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras no século XXI. São Paulo: Ed. Unesp, 2013. p. 11-29.

GÓES, M. C. R. Linguagem, surdez e educação. 2. ed. Campinas: Editora Autores Associados, 1999.

GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio- interacionista. São Paulo: Plexus, 1997.

HAGUIARA-CERVELLINI, N. A musicalidade do surdo: representação e estigma. 2. ed. São Paulo: Plexus, 2003.

KIM, T.; LIVESCU, K.; SHAKHNAROVICH, G. American sign language fingerspelling recognition with phonological feature-based tandem models. 2012. IEEE Workshop on Spoken Language Technology, SLT 2012 - Proceedings. http://dx.doi.org/10.1109/SLT.2012.6424208.

KNAPP, M. L.; HALL, J. A. Nonverbal communication in human interaction. 5. ed. Boston, MA.: Wadsworth Thompson Learning, 2002.

LACERDA, C. B. F.; LODI, A. C. B. A inclusão escolar bilíngue de alunos surdos: princípios, breve histórico e perspectivas. In: LACERDA, C. B. F.; LODI, A. C. B. (org.). Uma escola duas línguas: letramento em língua portuguesa e língua de sinais nas etapas iniciais de escolarização. Porto Alegre: Mediação, 2009. p. 11-32.

LELAND, M.; VIOTTI, E. Língua e gesto em línguas sinalizadas. Veredas online, v. 1, p. 289-304, 2011.LIMA, N. M. F. Inclusão escolar de surdos: o dito e o feito. In: LODI, A. C. B.; MÉLO, A. D. B.; FERNANDES, E. (org.). Letramento, bilinguismo e educação de surdos. Porto Alegre: Editora Mediação, 2012. p. 303-332.

LITTLE, D. A aprendizagem de línguas em tandem e a autonomia do aprendente. In: CHICHORRO, A.; DELILLE, K. H. (org.). Aprendizagem autónoma de línguas em tandem. Lisboa: Edições Colibri, 2002. p. 27-35.

LODI, A. C. B.; BORTOLOTTI, E. C.; CAVALMORETI, M. J. Z. Letramentos de surdos: práticas sociais de linguagem entre duas línguas/culturas. Bakhtiniana, Revista de estudos do Discurso, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 131-149, 2004.

NUNAN, D. (Ed.). Collaborative language learning and teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.

OLIVEIRA-SILVA, C. M. A aprendizagem colaborativa de inglês instrumental por alunos surdos: um estudo com alunos do curso de Letras: Libras da UFG. 2017. 262 f. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.

OLIVEIRA, Q. M. de. A aprendizagem de libras e de português em contexto de tandem: um estudo com alunos do curso de Letras: Libras da UFG. 2017. 127 f. Dissertação (Mestrado em Letras e Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.

OLIVEIRA, Q. M. de.; FIGUEIREDO, F. J. Q. de. Educação dos surdos no Brasil: um percurso histórico e novas perspectivas. Revista Sinalizar, v. 2, n. 2, p. 173-196, 2017a.

https://doi.org/10.5216/rs.v2i2.50544

OLIVEIRA, Q. M. de.; FIGUEIREDO, F. J. Q. de. Aprendizagem de libras e português em contexto de tandem: um estudo realizado com uma aluna surda e uma ouvinte da Universidade Federal do Tocantins. Caderno Seminal Digital, v. 28, p. 1-24, 2017b. http://dx.doi.org/10.12957/cadsem.2017.28833

OXFORD, R. L. Cooperative learning, collaborative learning, and interaction: Three communicative strands in the language classroom. The Modern Language Journal, v. 81, n. 4, p. 443-456, 1997. https://doi.org/10.1111/j.1540-4781.1997.tb05510.x

PEREIRA, M. C. C. Papel da língua de sinais na aquisição da escrita por estudantes surdos. In: LODI, A. C. B. et al. (org.). Letramento e minorias. 7. ed. Porto Alegre: Editora Mediação, 2014. p. 45-52.

QUADROS, R. M. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.

QUADROS, R. M. Língua de herança: língua brasileira de sinais. Porto Alegre: Penso, 2017.

QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. QUADROS, R. M.; FINGER, I. Teorias de aquisição da linguagem. Florianópolis: Ed. UFSC, 2008.

RABELO, A. S. Português Sinalizado: Comunicação Total. v. 1. Goiânia: Editora UCG, 1992.

RIBEIRO, V. P. Ensino de língua portuguesa para surdos: percepções de professores sobre adaptação curricular em escolas inclusivas. Curitiba: Editora Prismas, 2013.

SILVA, M. P. M. A construção de sentidos na escrita do aluno surdo. São Paulo: Plexus Editora, 2001.

SILVA, S. V. O processo ensino-aprendizagem de línguas em teletandem: um estudo na área de Turismo. 2012. 293 f. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012.

SKLIAR, C. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 2015.

SOUZA, R. A. Telecolaboração e divergência em uma experiência de aprendizagem de português e inglês como línguas estrangeiras. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 3, n. 2, p. 73-96, 2003. https://doi.org/10.1590/S1984-63982003000200004

SOUZA, R. A. Telecolaboração na aprendizagem de línguas estrangeiras: um estudo sobre o regime de tandem. In: FIGUEIREDO, F. J. Q. (org.). A aprendizagem colaborativa de línguas. Goiânia: Editora UFG, 2006. p. 255-276.

STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. 2. ed. Florianópolis: Editora UFSC, 2009. p. 31-37.

SWAIN, M. The output hypothesis and beyond: Mediating acquisition through collaborative dialogue. In: LANTOLF, J. P. (ed.). Sociocultural theory and second language learning. Hong Kong: Oxford University Press, 2000. p. 97-114.

VASSALLO, M. L; TELLES, A. J. Ensino e aprendizagem de línguas em Tandem: princípios teóricos e perspectivas de pesquisa. In: TELLES, A. J. (org.). Teletandem: um contexto virtual, autônomo e colaborativo para aprendizagem de línguas estrangeiras no século XXI. Campinas: Pontes, 2009. p. 17-28.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Pontes, 1998.

WEBSTER, N. Webster’s encyclopedic unabridged dictionary of the English language. New York: Gramercy Books, 1989.

WOOD, D.; BRUNER, J. S.; ROSS, G. The role of tutoring in problem solving. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 17, p. 89-100, 1976. https://doi.org/10.1111/j.1469-7610.1976.tb00381.x

WOODIN, J. Promover a competência intercultural na aprendizagem em tandem. In: CHICHORRO, A.; DELILLE, K. H. (org.). Aprendizagem autónoma de línguas em tandem. Lisboa: Edições Colibri, 2002. p. 61-66.




DOI: https://doi.org/10.15210/rle.v23i4.18511

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Qualis: A1 (Letras, 2016)

ISSN (digital): 1983-2400

A Revista Linguagem & Ensino adota a política de acesso aberto conforme a Licença BY-NC-ND 2.5 BR da Creative Commons