Cadernos de Educação Nº 24

O Editor

Resumo


 

Editar um periódico como Cadernos de Educação, que em tão pouco tempo de existência tem sua qualidade reconhecida, merecendo avaliação Nacional A, é motivo de orgulho para a FaE/UFPel. E o que é causa de honra redobra responsabilidades. Assim, continuamos firmes no propósito de publicar contribuições cada vez mais significativas para a educação brasileira.

 

Por isto mesmo, temos apresentado a nossos leitores textos de importantes educa-dores nacionais, ao lado de valiosas contribuições internacionais que contribuem para nosso próprio auto-reconhecimento.

Neste número 24, a história não é diferente: permanecemos em trajetória ascensional. Como contribuição internacional, escolhemos dois textos de vizinhos do Cone Sul que refletem sobre uma realidade sócio educacional que nos é bastante familiar. No primeiro artigo, Mauricio Langon, professor honorário da Universidad de la República - Uruguai, coloca-se como problema a realidade espantosa que impacta as aulas, e busca uma reflexão a partir da filosofia de Platão, propondo um ensino concreto, como movimento filosófico que gera condições de aprendizagem. Em seguida, o argentino Gustavo Cirigliano, que lecionou não só nas universidades de seu país como em várias outras da América Latina, discute sobre as indissolúveis conexões entre o Projeto de País, ou seja, entre o que uma nação se propõe a ser e o seu Sistema Educativo. Logo a seguir, dois expoentes da educação brasileira prosseguem com um debate profundamente radicado na realidade brasileira, buscando oferecer contribuições concretas que bem revelam o projeto de país que defendem. Assim, Pedro Demo e Balduino Andreola discutem questões cruciais para a universidade brasileira. O primeiro traz novos argumentos em defesa de um currículo intensivo na universidade, com um volume menor de conteúdos,porém explorados em profundidade, através de atividades que expressem aprendizagem autêntica. O segundo toma como base a histórica oposição entre cidade e campo para opor-se à simples transposição dos modelos urbanos para as escolas rurais; analisa, então, cinco experiências - uma na Guiné-Bissau e quatro no Rio Grande do Sul - como exemplos bem-sucedidos de encontro,diálogo e troca de experiências para a superação da distância e do preconceito.

Logo após este primeiro conjunto, um bloco de três textos traz a cultura para o centro do palco e, a partir deste outro ângulo, dá seguimento à mesma busca de alternativas educacionais. Magda Damiani parte da constatação de que, assim como a poesia tem a capacidade de subverter os processos de percepção/cognição, também é razoável pensar que as mudanças léxicas resultantes de posturas "politicamente corretas" podem contribuir para mudanças educacionais e sociais. Por seu turno, Augusto Luis Amaral, numa poética pedagógica, aborda as relações entre a saúde, a educação e o teatro, propondo-se a mostrar que o teatro, ao ser transportado para o ambiente pedagógico formal, é capaz de constituir-se em crítica radical às práticas educativas institucionalizadas. Deste modo, advoga que a educação pode transformar-se em espaço de construção de seres humanos como obras de arte, constituindo identidades esteticamente aprazíveis. Encerrando este segundo bloco, Daltro Rotta, Tatiana Silveira, Eliane Pardo e Luiz Carlos Rigo tomam o Hip-Hop como referência cultural norteadora para lidar com questões que dizem respeito a relações entre cultura escolar e não-escolar, tais como o tratamento dispensado ao corpo, e as relações de poder que circulam em ambas as culturas.

Na mesma linha geral de preocupação com as condições objetivas em que se desenrolam os processos educacionais, Cristina Maria Rosa, da UFPel e, logo após, um grupo de pesquisadores sociais vinculados simultaneamente ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos, Pesquisa e Extensão sobre Trabalho (UNITRABALHO) e à Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (INTECOOP/UCPEL), apresentam artigos que discutem questões sobre a representação social do trabalho por parte de sujeitos envolvidos em processos educativos. No primeiro texto, a autora estuda o imaginário de um grupode mulheres envolvidas em diferentes processos de letramento e conclui que o sentido por elas atribuído aos processos de escolarização restringe-se à funcionalidade instrumental para o mundo do trabalho. No outro texto, Ana LuizaBarros, Eliana de Moura, Marcos Kammer, Matilde Contreiras e ReinaldoTillmann estudam as representações sociais de estudantes universitários sobrea formação profissional que almejam. Os autores concluem que a realização pessoal e a ascensão social são o eixo de suas expectativas, o que pode tornar infrutíferos os esforços que buscam alcançar os objetivos maiores da forma-ção universitária: capacidade de raciocínio, autonomia intelectual, pensamento crítico, iniciativa própria e capacidade de visualização e resolução de problemas.

No último bloco de textos, Carlos Machado discute a produção dagestão educacional democrática, enquanto Eliane Saravali relata pesquisa que avalia a influência de uma intervenção psicopedagógica na construção de uma noção lógico-matemática.

Por fim, mantendo a proposta de publicar em seções específicas outros textos além de artigos científicos, brindamos o leitor com o ponto de vistade Sandra Corazza, numa poética do infantil, e avançamos a tradução do clássico educacional de John Locke.

Desejamos que todos tenham na leitura o mesmo prazer que tivemos na preparação de mais este número de Cadernos de Educação.