Proponentes: Marcio Caetano (Universidade Federal de Pelotas; GE Cotidianos – Éticas, Estéticas e Políticas da ANPED) Maria Luiza Sussekind (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; ANPED) Tiago Ribeiro (Instituto Nacional da Educação de Surdos; Universidade Nacional de Rosário, Argentina)
Previsão de publicação: final do segundo semestre de 2023. Envio de textos até 30 de setembro de 2023.
Ementa: A despeito dos hiatos democráticos, a história do Brasil registra experiências de tentativas e golpes políticos. Somente no período da República, que teve também início por um golpe, o país já viveu o interrompimento do mandato de vários presidentes e mudanças violentas dos rumos políticos da nação que vive em guerra permanente contra alguns de seus povos. Um dos golpes mais violentos e repressores de nossa história foi, sem dúvida, a Ditadura Civil-Militar de 1964, que perdurou até a década de 1980, e ficou marcado por genocídios contra os povos originários além das perseguições e assassinatos políticos. Nos contextos científico, artístico, educacional e cultural do país, a Ditadura significou censura, perseguição e silenciamento. As políticas de Estado estiveram a favor da imposição do pensamento único, da estética conservadora, da lógica da repressão e da obediência fascista. Mas, como bem nos diz Certeau (2012), o cotidiano é caça arisca e mesmo diante de tecnologias e máquinas de controle e repressão, as pessoaspraticantes inventam, burlam e desviam em suas criações cotidianas perambulantes e não se permitem aprisionar. Praticantespensantes, a todo momento e o tempo todo, performam a vida caçando liberdade, formas de afirmar suas existências no mundo, tecidas e nutridas nosdoscom os cotidianos. Apesar das políticas comprometidas com o silenciamento e a repressão, os cotidianos polinizaram experiências, ações e movimentos contrários à imposição de um modelo único de existir, pensar, habitar e performar o mundo. Proliferação de vozes que se queriam aprisionadas, mas sempre estiveram aí, na polifonia dos cotidianos, em pequenas alianças que bordam redes de saberes-fazeres-conhecimentos contra hegemônicos. A partir dos anos de 1990, no Brasil, tendo as escolas e o diálogo universidadescola como nascedouro, as pesquisas nosdoscom os cotidianos reforçaram os movimentos em favor da desinvisibilização, da legitimação e da escuta dos processos e redes de saberesfazeres tecidas coletivamente entre praticantespensantes da educação e dos movimentos sociais populares. Nilda Alves e Regina Leite Garcia, duas professoras que transitaram entre a escola básica e a universidade, naquele então, e em conversas em suas redes, lançaram as sementes do que hoje se fortalece como o campo de produção do conhecimento em Educação: os estudos nosdoscom os cotidianos. Nas últimas três décadas, o campo de estudos e pesquisas nosdoscom os cotidianos têm se fortalecido. Esse movimento exigiu e criou espaçostempos específicos em que as perspectivas epistemológicas-políticas-metodológicas que os animaram fossem debatidas e desenvolvidas mais amplamente. Nesse sentido, vários grupos e linhas de pesquisas em programas de pós-graduação surgiram no Brasil e, mais recentemente, a ANPED criou o GE Cotidianos: éticas, estéticas e políticas com a intenção de articular procedimentos, teorias, modos e maneiras de pesquisar com os cotidianos que abordassem diferentes ‘praticantespensantes’ em seus ‘fazeressentiressaberes’. Nessa direção, este dossiê busca reunir textos resultantes de pesquisas e experiências que privilegiam e se nutrem dos debates em torno das correntes teórico-metodológicas que se voltam epistemologicamente aos cotidianos e seus praticantespensantes. Reunirá trabalhos que se debrucem sobre as ideias de Cotidianos, narrativas e experiências, discutindo metodologicamente possibilidades de pesquisas em Educação, a partir do que vem sendo feito e do que ainda poderá ser realizado em termos teóricospráticos tendo o campo em seus percursos e referências como foco. |