NARRAR DE DENTRO E NARRAR DE FORA: MEMÓRIA, EXPERIÊNCIA E COTIDIANO A PARTIR DAS NARRATIVAS DO MASSACRE DO CARANDIRU

Adriana Rezende Faria Taets Silva

Resumo


O Massacre do Carandiru, ocorrido no dia 2 de outubro de 1992, é considerado, neste artigo, como um evento crítico que, além de dizimar a vida de uma centena de presos, é também um disparador de narrativas. Tão logo o evento ocorreu, narrativas diversas foram elaboradas para dar conta dos acontecimentos. Se, por um lado, o olhar “de fora” do cárcere, e portanto, de fora do Pavilhão 9, apressou-se em relatar os eventos de modo a buscar compreendê-lo, as narrativas daqueles que experimentaram o mesmo evento – e sobreviveram – levaram anos para serem elaboradas. A partir dos conceitos de Veena Das (1999) sobre a experiência do horror, a construção de narrativas e o trabalho do tempo, este artigo busca compreender as diferenças entre a construção de narrativas da violência por aqueles que observaram de fora os eventos, e aqueles que a vivenciaram enquanto experiência.

Abstract: The Carandiru Massacre, occurred on 2nd October in 1992, is considered in this article as a critical event that besides to decimate the lives of a hundred prisoners is also a trigger for narratives. As soon as the event occurred, a lot of narratives were written to account for events. If, on the one hand, the "outside" look of the jail, and therefore outside Pavilion 9, has hastened to report events so as to seek to understand it, the narratives of those who experienced the same event - and survived - it took years to work out. From the concepts of Veena Das (1999) on the experience of horror, the construction of narratives and the time’s work, this article seeks to understand the differences between the construction of violence narratives by those who observed events outside and those who lived it as an experience.

 


Palavras-chave


Massacre do Carandiru, Prática da Escrita, Narrativas do Cárcere, Violência, Produção de Memória.

Texto completo:

PDF

Referências


BUMACHAR, BRUNA LOUZADA, FERREIRA, PEDRO PEIXOTO. Materialidades e maternidades: agência distribuída e produção de copresença em redes espaço-temporais de cuidado mobilizados por estrangeiras na Penitenciária Feminina da Capital. Intersecções, Rio de Janeiro, v.20, jun., 2018, p.7-92.

BUTLER, JUDITH. Quadros de guerra. Quando a vida é passível de luto? Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2016.

CÂMARA, HELEUSA FIGUEIRA. Além dos muros e das grades (discursos prisionais). EDUC, São Paulo, 2001.

DAS, VEENA. Fronteiras, violência e o trabalho do tempo: alguns temas wittgensteinianos. RBCS, vol. 14, n. 40, julho de 1999, p. 31 a 42.

_________, Life and words. Violence and the descent into the ordinary. University of California Press, Berkeley and Los Angeles, 2007.

DEPEN, Departamento Penitenciário Nacional, Ministério da Justiça. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Atualização, Junho 2016, Brasília, 2017.

GODOI, RAFAEL. Para uma reflexão sobre os efeitos sociais do encarceramento. Revista Brasileira de Segurança Pública, v.5, n.1, 2011, p.138-154.

________. Vasos comunicantes, fluxos penitenciários: entre dentro e fora das prisões de São Paulo. Vivência, Revista de Antropologia, v.1, n.46, mar, 2016, p. 131-142.

GOFFMAN, ERVING. Manicômios, conventos e prisões. Perspectiva, São Paulo, 2005.

MACHADO, MAÍRA ROCHA. (Org). Carandiru não é coisa do passado: um balanço sobre os processos, as instituições e as narrativas 23 anos após o Massacre. São Paulo, FGV Direito SP, 2015.

MACHADO, MAÍRA ROCHA; MACHADO, MARTA RODRIGUES DE ASSIS; FERREIRA, LUISA MORAES ABREU. Massacre do Carandiru: vinte anos sem responsabilização. Novos Estudos, n. 94, nov. 2012, p.4 a 29.

PADOVANI, NATÁLIA. CORAZA. Confounding borders and walls. Documents, letters and the governance of relationships in São Paulo and Barcelona prisions. Vibrant, v. 10, n.2, 2014, p.340-376.

___________. Tráfico de mulheres nas portarias das prisões ou dispositivos de segurança e gênero nos processos de produção das “classes perigosas”. Cadernos Pagu, n.51, 2017.

PALMEIRA, MARIA RITA SIGAUD SOARES. Uma análise da escrita carcerária Brasileira Contemporânea. Literatura e Autoritarismo, Santa Maria, n.31: A experiência do confinamento, jan-jun, 2018, p.123 a 128.

PONCIANO, JULIO CÉSAR. Cartas da prisão: narrativa e alteridade. 2007. 160 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007.

SABAINI, RAPHAEL TADEU. Uma cidade entre presídios: percepções acerca de um contínuo entre a prisão e o urbano. Sociedade e Território, v.23, n.2, p.21-37, dez, 2011.

SILVESTRE, GIANE. Dias de visita: uma sociologia da punição e das prisões em Itirapina. 2011. 192 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011.

TAETS, ADRIANA REZENDE FARIA. Em trânsito: o cotidiano de algumas agentes de segurança penitenciária do Estado de São Paulo. Revista Mediações, v.18, n.2, 2013, p.246-259.

__________. O dizível e o indizível: narrativas de dor e violência em cárceres brasileiros. Anuário Antropológico, v.39, n1, 2014, p. 169-194.

__________. Por escrito: o Carandiru para além do Carandiru. 2018. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.




DOI: https://doi.org/10.15210/lepaarq.v17i33.16273

 
Contador de visitas