ARTIGO original

Mortalidade por câncer de traqueia, brônquios e pulmões no Nordeste do Brasil, 2002-2019

Mortality from cancer of the trachea, bronchi and lungs in Northeast Brazil, 2002-2019

Mortalidad por cáncer de tráquea, bronquios y pulmones en el Nordeste de Brasil, 2002-2019

Oliveira, Allanna Stephany Cordeiro de;[1] Almeida, Ruth Araújo de;[2] Lopes, Maria Eduarda Bezerra;[3] Cavalcante, Jéssica Beatriz Pachêco;[4] Silva, Allan Batista[5]

RESUMO

Objetivo: analisar a distribuição e taxa de mortalidade por câncer de traqueia, brônquios e pulmões nos Estados da Região Nordeste do Brasil, entre os anos de 2002 e 2019. Método: estudo ecológico, cujos dados foram coletados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e do Atlas On-line de Mortalidade por Câncer. Resultados: foram registrados 70.578 óbitos por câncer de traqueia, brônquios e pulmões na Região Nordeste do Brasil, ao longo dos anos, com uma média anual de aproximadamente 4.151 óbitos. Dentre esse total a maioria foram do sexo masculino, mas quando comparado à variação percentual anual estimada entre os sexos, observou-se que em todos os Estados a variação do sexo feminino foi maior. Conclusão: os Estados do Ceará, Bahia e Pernambuco possui os números mais elevados de óbitos do Nordeste. E os Estados Paraíba, Maranhão e Piauí que apresentaram 7,01, 6,15 e 4,65 de variação percentual anual estimada, respectivamente.

Descritores: Neoplasias; Mortalidade; Pulmão

ABSTRACT

Objective: to analyze the distribution and mortality rate from trachea, bronchi and lung cancer in the states of the Northeast Region of Brazil, between 2002 and 2019. Method: ecological study, whose data were collected from the Brazilian Institute of Geography and Statistics and from the Online Atlas of Cancer Mortality. Results: 70,578 deaths from cancer of the trachea, bronchi and lungs were recorded in the Northeast region of Brazil, over the years, with an annual average of approximately 4,151 deaths. Among this total, the majority were male, but when compared to the estimated annual percentage variation between the sexes, it was observed that in all states the variation of females was greater. Conclusion: the states of Ceará, Bahia and Pernambuco have the highest numbers of deaths in the Northeast. And the states of Paraíba, Maranhão and Piauí that presented 7.01, 6.15 and 4.65 of estimated annual percent change.

Descriptors: Neoplasms; Mortality; Lung

RESUMEN

Objetivo: analizar la distribución y tasa de mortalidad por cáncer de tráquea, bronquios y pulmón en los Estados de la Región Nordeste de Brasil, entre 2002 y 2019. Método: estudio ecológico, cuyos datos fueron recolectados del Instituto Brasileño de Geografía y Estadística y de Atlas en línea de mortalidad por cáncer. Resultados: se registraron 70.578 muertes por cáncer de tráquea, bronquios y pulmones en la región Nordeste de Brasil, a lo largo de los años, con un promedio anual de aproximadamente 4.151 muertes. Dentro de este total, la mayoría eran hombres, pero al comparar la variación porcentual anual estimada entre los sexos, se observó que en todos los Estados la variación del sexo femenino fue mayor. Conclusión: los Estados de Ceará, Bahía y Pernambuco tienen los mayores números de muertes en el Nordeste. Y los Estados de Paraíba, Maranhão y Piauí que presentaron 7,01, 6,15 y 4,65 de variación porcentual anual estimado, respectivamente.

Descriptores: Neoplasias; Mortalidad; Pulmón

INTRODUÇÃO

Considera-se o câncer como um grupo de doenças que possui a caraterística principal de crescimento desordenado das células, com aptidão de afetar qualquer órgão ou tecido independentemente da idade.1 Dentre os variados tipos de cânceres, o câncer de pulmão, traqueia e brônquios possui forte ligações com a submissão prolongada aos fatores de risco, como o uso derivado do tabaco e as exposições ocupacionais ou ambientais. Contudo, o risco de desenvolver a patologia aumenta de acordo com tempo de exposição aos agentes carcinógenos. Desta maneira, o câncer de pulmão está relacionado também com a epidemia do tabaco, envelhecimento populacional, histórico familiar, as repetidas infecções pulmonares e deficiência ou excesso de vitamina A.2

Segundo o International Agency for Research on Cancer,3 em 2018 o câncer de pulmão estava liderando como um dos causadores de morte por neoplasias malignas por todo o mundo, tanto na incidência quanto na mortalidade, este tipo de câncer ocupa o primeiro lugar, desde 1985. Diante as estimativas de 2018,3 a neoplasia pulmonar mostrou-se com a maior taxa de mortalidade, se responsabilizando por 18,4% dos casos, como sítio primário. 

Além disso, a doença foi responsável por 27.931 mortes em 2017, no Brasil. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA),4 em 2020 tiveram 30.200 novos casos desta patologia sendo em homens 17.760 e mulheres 12.440. E em relação ao Nordeste do Brasil, é o segundo tipo de câncer mais frequente em homens, e o quarto em mulheres.

O fato de não serem observados sintomas no início da doença, o câncer é detectado apenas em estágios avançados, sendo resultado de uma sobrevida baixa na maior parte da população. A taxa de sobrevida em relação a cinco anos é de 56% (21% para mulheres e 15% para homens). Pois, apenas 16% dos pacientes possuem um diagnóstico precoce.5

Diante disso, é notória a importância que esta patologia vem assumindo no perfil epidemiológico da população brasileira. A identificação dos grupos mais vulneráveis se torna fundamental para que possam ser desenvolvidas ações com efetividade de controle voltada a esse agravo de saúde. Já que por sua vez o conhecimento da extensão do problema nos mais variados subgrupos poderá contribuir para a implementação, o monitoramento e a avaliação das políticas públicas de saúde.6

Dessa forma, é visto que para a diminuição dos índices de cânceres de pulmão, traqueia e brônquios, no qual se considera um câncer evitável, necessita-se de medidas preventivas por meio dos profissionais da saúde, aumentando a conscientização dos públicos-alvo. Assim, objetivou analisar a distribuição e taxa de mortalidade por câncer de traqueia, brônquios e pulmões nos Estados da Região Nordeste do Brasil, entre os anos de 2002 e 2019.

MATERIAIS E MÉTODO

O presente trabalho é do tipo ecológico, com abordagem quantitativa. No estudo ecológico,7 a unidade de pesquisa é formada por um grupo de indivíduos, em que é permitido verificar a possível relação entre as condições de saúde e a exposição investigada nesse grupo de pessoas. O presente estudo foi desenvolvido entre o período de abril de 2020 e agosto de 2021, com base nos dados registrados no Atlas On-line de Mortalidade por Câncer,8 disponibilizados no site eletrônico: https://mortalidade.inca.gov.br/MortalidadeWeb/ em que foram coletados os números de óbitos por câncer de traqueia, brônquios e pulmão nos nove Estados Nordestinos, no período entre 2002 e 2019. Esses dados foram estratificados por sexo, faixa etária e por Estado.

Além disso, foi coletado o total de habitantes em cada estado para cada ano em análise, na Base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).9 Vale ressaltar que para os anos não censitários, foi coletado o número populacional de acordo com as estimativas calculadas pelo próprio instituto.

Os dados foram tabulados em planilhas do Microsoft Office Excel 2010 e submetidos à análise por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20. Inicialmente foi realizada a análise descritiva das variáveis estudadas. Posteriormente foram calculadas as taxas de mortalidade específica bruta e ajustada por idade para o sexo masculino e feminino. A taxa de mortalidade específica foi padronizada por idade pelo método direto, considerando a população padrão mundial.

Além disso, foi verificada por meio da regressão linear simples a tendência temporal, onde os logaritmos das taxas de mortalidade padronizadas foram considerados como variável dependente e os anos estudados como variável independente. O modelo estimado, ln (y) = β0 + β1 x, serviu para calcular a Variação Percentual Anual Estimada (VPAE), conhecida na língua inglesa por Estimated Annual Percent Change (EAPC), obtido pela fórmula 100*(expβ1 – 1). Ressalta-se que foram tidas como significativas as tendências com p-valor <0,05.

O projeto de pesquisa não foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo seres humanos, pelo fato de os dados serem de livre acesso. Porém, é importante destacar que as questões éticas estão de acordo com as normas e diretrizes vigentes na Resolução nº510/16 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS

Foram registrados 70.578 óbitos por câncer de traqueia, brônquios e pulmões na Região Nordeste do Brasil, ao longo dos anos 2002 a 2019, com uma média anual de aproximadamente 4.151 óbitos. Dentre esse total 56,86% foram do sexo masculino. Os Estados Ceará, Bahia e Pernambuco apresentaram os maiores números de óbitos da doença na população geral, registrando 15.255 (21,61%), 15.100 (21,39%) e 13.798 (19,56%) mortes, respectivamente, como pode ser visto na Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição do número de óbitos por câncer de traqueia, brônquios e pulmão na Região Nordeste do Brasil, segundo sexo, 2002-2019.

Estados

Óbitos

Geral

Masculino

Feminino

n

%

n

%

n

%

Alagoas

3.362

4,76

1.782

4,44

1.580

5,19

Bahia

15.100

21,39

8.945

22,29

6.155

20,22

Ceará

15.255

21,61

8.209

20,45

7.046

23,14

Maranhão

5.784

8,20

3.455

8,61

2.329

7,65

Paraíba

5.260

7,46

2.859

7,12

2.401

7,89

Pernambuco

13.798

19,56

7.873

19,62

5.925

19,46

Piauí

4.160

5,89

2.519

6,28

1.641

5,39

Rio Grande do Norte

5.189

7,35

2.890

7,20

2.299

7,55

Sergipe

2.670

3,78

1.601

3,99

1.069

3,51

Total

70.578

100%

40.133

100%

30.445

100%

Fonte: Atlas On-line de Mortalidade por Câncer,8 2021.

Ao analisar a taxa de mortalidade ajustada por idade por 100 mil habitantes observa-se que todos os Estados apresentaram um aumento nesse valor ao longo dos anos (Tabela 2). Em concordância com tal resultado, observa-se na Tabela 3, que todos os Estados apresentaram um aumento VPAE da taxa de mortalidade ajustada pela idade na população geral, como por exemplo os Estados Paraíba, Maranhão e Piauí que apresentaram 7,01; 6,15 e 4,65 de VPAE, respectivamente.

Tabela 2: Taxa de mortalidade ajustada por idade por 100 mil habitantes nos Estados da Região Nordeste do Brasil, 2002-2019.

Variáveis por Estado

Anos de Análise

2002

2010

2019

Alagoas

 

 

 

Geral

4,78

6,61

9,58

Sexo

 

 

 

Masculino

6,62

7,87

10,52

Feminino

3,20

5,56

9,00

Bahia

 

 

 

Geral

4,49

5,62

7,80

Sexo

 

 

 

Masculino

5,91

7,55

9,57

Feminino

3,31

4,01

6,47

Ceará

 

 

 

Geral

6,83

9,43

14,17

Sexo

 

 

 

Masculino

8,96

10,91

16,34

Feminino

5,07

8,21

12,54

Maranhão

 

 

 

Geral

2,83

5,67

8,73

Sexo

 

 

 

Masculino

3,09

7,33

10,59

Feminino

2,62

4,14

7,37

Paraíba

 

 

 

Geral

3,71

6,75

10,48

Sexo

 

 

 

Masculino

5,43

8,21

12,74

Feminino

2,30

5,66

8,88

Pernambuco

 

 

 

Geral

6,45

8,46

10,70

Sexo

 

 

 

Masculino

9,86

11,34

14,03

Feminino

3,822

6,3

8,38

Piauí

 

 

 

Geral

5,76

6,46

10,50

Sexo

 

 

 

Masculino

9,14

8,50

13,1

Feminino

2,82

4,71

8,65

Rio Grande do Norte

 

 

 

Geral

5,89

7,50

12,95

Sexo

 

 

 

Masculino

7,53

9,31

15,71

Feminino

4,54

6,11

11,03

Sergipe

 

 

 

Geral

6,70

7,76

10,41

Sexo

 

 

 

Masculino

8,28

11,18

13,77

Feminino

5,47

4,94

7,97

Fonte: Atlas On-line de Mortalidade por Câncer,8 2021.


Quando comparado à variação percentual anual estimada entre os sexos, observou-se que em todos os Estados a variação do sexo feminino foi maior que a do sexo masculino. Maranhão, Paraíba e Piauí são os três Estados que possuem a maior variação para ambos os sexos, sendo a variação do sexo feminino maior em todos os Estados (Tabela 3).

Tabela 3: Análise de regressão linear da taxa de mortalidade ajustada por idade, segundo ano de registro na Região Nordeste do Brasil, 2002-2019

Variáveis por Estado

Análise de Regressão Linear

Alagoas

β0

β1

p-valor

VPAE

Geral

-64,066

0,033

<0,001

3,34

Sexo

 

 

 

 

Masculino

-50,048

0,026

0,001

2,63

Feminino

-85,823

0,044

<0,001

4,45

Bahia

 

 

 

 

Geral

-59,207

0,030

<0,001

3,08

Sexo

 

 

 

 

Masculino

-46,487

0,024

<0,001

2,44

Feminino

-81,909

0,041

<0,001

4,23

Ceará

 

 

 

 

Geral

-77,176

0,040

<0,001

4,03

Sexo

 

 

 

 

Masculino

-59,214

0,031

<0,001

3,12

Feminino

-102,118

0,052

<0,001

5,32

Maranhão

 

 

 

 

Geral

-118,163

0,06

<0,001

6,15

Sexo

 

 

 

 

Masculino

-110,421

0,056

<0,001

5,75

Feminino

-140,496

0,071

<0,001

7,32

Paraíba

 

 

 

 

Geral

-134,368

0,068

<0,001

7,01

Sexo

 

 

 

 

Masculino

109,591

0,056

<0,001

5,72

Feminino

-170,113

0,085

<0,001

8,92

Pernambuco

 

 

 

 

Geral

-47,028

0,024

<0,001

2,48

Sexo

 

 

 

 

Masculino

-28,498

0,015

<0,001

1,55

Feminino

-76,610

0,039

<0,001

3,98

Piauí

 

 

 

 

Geral

-89,305

0,045

<0,001

4,65

Sexo

 

 

 

 

Masculino

-70,716

0,036

<0,001

3,7

Feminino

-128,922

0,065

<0,001

6,71

Rio Grande do Norte

 

 

 

 

Geral

-60,295

0,031

<0,001

3,16

Sexo

 

 

 

 

Masculino

-42,145

0,022

<0,001

2,24

Feminino

-89,282

0,045

<0,001

4,64

Sergipe

 

 

 

 

Geral

-25,835

0,014

0,001

1,4

Sexo

 

 

 

 

Masculino

-7,685

0,005

0,438

0,51

Feminino

-63,251

0,032

<0,001

3,29

β0: intercepto do modelo linear; β1: coeficiente angular do modelo linear; VPAE : Variação Percentual Anual Estimada.

Fonte: Atlas On-line de Mortalidade por Câncer,8 2021.

DISCUSSÃO

De acordo com o INCA4 o câncer de pulmão é o segundo mais comum entre homens e mulheres no Brasil (sem contar o câncer de pele não melanoma). Está em primeiro lugar em todo o mundo desde 1985, tanto em incidência quanto em mortalidade. Estima-se que 13% de todos os casos novos de câncer são de pulmão.4

Estudiosos apontam tendências de aumento nas taxas de mortalidade por câncer até o ano de 2030 em ambos os sexos nas regiões Norte e Nordeste, enquanto para as demais regiões brasileiras as tendências previstas são decrescentes. Pode-se concluir também que as intensas diferenças regionais e por sexos existentes na mortalidade por câncer no Brasil continuarão a aumentar.10

Assim, as mesmas disparidades encontradas entre os Estados podem ser encontradas entre as localidades do Nordeste, onde os pacientes que vivem no interior dos Estados possuem maiores dificuldades de acesso ao tratamento. Ademais, os registros de morte das maiores cidades e capitais tendem a ser mais bem descritos.11

Além disso, acredita-se que os diferentes padrões culturais, assim como diferentes classes sociais, estilo de vida e formas de exposição têm bastante influência na mortalidade do câncer em homens e mulheres. Vale ressaltar também que o diagnostico tardio das neoplasias passiveis de rastreamento, a dificuldade de acesso ao diagnóstico e tratamento adequado, gerenciamento da dor e acesso aos tratamentos paliativos contribuem para o aumento desse índice.12

Conseguinte, a disparidade dos níveis hierárquicos reflete na atenção ao paciente oncológico no Brasil. Existem grandes discrepâncias entre as áreas com melhores estruturas urbanas, localizadas nas regiões Sul e Sudeste, que contam com sistemas de saúde bem equipados e ordenadamente distribuídos no território, e áreas com ausência de níveis hierárquicos intermediários como as regiões Norte e Nordeste que possuem um sistema mais centralizado nas grandes cidades.13

Além disso, segundo6 a ocorrência da mortalidade por câncer de pulmão, traqueia de brônquios apresenta grandes nuances entre homens e mulheres, pois os homens tendem a ter menos cuidado com a dieta e a saúde, praticando hábitos de vida não tão saudáveis, tais como o etilismo, sedentarismo e, principalmente, o tabagismo. Com cerca de 80% das mortes globais, o tabagismo é responsável pelo maior índice de mortalidade por câncer de pulmão em homens e 50% das mortes em mulheres.2

No presente estudo foi observado que em todos os Estados as mulheres apresentaram uma VPAE acima dos homens, ou seja, o número de mulheres que morreram por câncer de traqueia, brônquios e pulmão foi crescendo a cada ano em estudo, supomos que esse aumento pode estar relacionado a sobrevivência das mulheres. Acredita-se que a tendência de crescimento das mulheres no interior do Nordeste - em ritmo bastante expressivo - reforça as evidências de que a epidemiologia do câncer de pulmão pode ter características diferentes entre os sexos, sujeitas a fatores hormonais, genéticos, ambientais e comportamentais. A diminuição desses tumores nos homens e o aumento ou estabilidade nas mulheres são um padrão em diferentes partes do mundo. Essa tendência está relacionada principalmente ao aumento das taxas de tabagismo feminino nos últimos anos e no aumento da longevidade, em especial da expectativa de vida das mulheres. Também no Brasil, essa lacuna de gênero vem diminuindo desde a década de 1980, devido, principalmente, às diferenças na prevalência do tabagismo e na exposição ao fumo passivo. Nesse sentido, deve-se descartar que seja mais difícil para as mulheres parar de fumar.14

Mesmo diante da redução do número de fumantes, como observado nos últimos anos, o impacto da prevalência do tabagismo sobre a mortalidade por câncer de pulmão é tardio, podendo chegar a um longo período de latência, de aproximadamente 30 anos entre a exposição ao tabaco e derivados e o óbito. 14

Sendo assim, expansão do tabagismo no país, principalmente do feminino, varia conforme a região geográfica e acredita-se que a taxa de mortalidade por câncer de pulmão, traqueia e brônquios nas mulheres continuará a aumentar nos próximos anos, seja na capital, nas áreas mais urbanizadas, ou no interior.12 Por esse motivo, faz-se necessário a intensificação das medidas de controle e prevenção ao tabagismo junto a população de risco e o incentivo a hábitos saudáveis, a fim de prevenir a doença. Assim como, é importante intensificar as ações de diagnóstico e tratamento precoce do câncer de pulmão, traqueia e brônquios, a fim de reduzir a curto e longo prazo o número de óbitos na população brasileira.

CONCLUSÕES

Por meio do exposto, concluiu-se que a região Nordeste possui um alto índice de mortalidade, pois no Brasil existe uma grande disparidade entre os Estados, sendo as regiões sul e sudeste com sistemas de saúde bem equipados e distribuídos, mostrando uma queda em relação aos estudos de mortalidade do câncer de Pulmão, Traqueia e Brônquios dessa região.

Destaca-se também a disparidade em relação ao sexo, apresentando as mulheres com índices cada vez maiores, em relação aos homens, sendo explicada pelo aumento nas taxas de tabagismo feminino, maior longevidade e na melhoria do acesso aos serviços de saúde.

A limitação de generalização dos achados do estudo consiste em ter apenas analisado uma região do Brasil, como também a utilização de dados secundários que em algumas vezes pode ocorrer uma subnotificação dos casos.

REFERÊNCIAS

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7 Merchán-Hamann E, Tauil PL. Proposal for classifying the different types of descriptive epidemiological studies. Epidemiol. serv. saúde. 2021;30(1):e2018126. DOI: https://doi.org/10.1590/s1679-49742021000100026

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10 Barbosa IR, Costa ICC, Pérez MMG, Souza DLB. Cancer mortality in Brazil Temporal Trends and Predictions for the Year 2030. Medicine. 2015;94(16):1-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/md.0000000000000746

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13 Machado CSR, Lima ACC. Distribuição espacial do sus e determinantes das despesas municipais em saúde. Revista Econômica do Nordeste. 2021;52(4):121-45. Disponível em: https://www.bnb.gov.br/revista/index.php/ren/article/view/1305/911

14 Malta DC, Stopa SR, Santos AS et al. Evolution of tobacco use indicators according to telephone surveys, 2006-2014. Cad. Saúde Pública (Online). 2017;33(Suppl 3). DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00134915

Recebido em: 18/01/2022

Aceito em: 16/11/2022

Publicado em: 19/12/2022



[1] Universidade Federal da Paraíba (UFPB). João Pessoa, Paraíba (PB). Brasil (BR). E-mail: allannastephanny@gmail.com ORCID: 0000-0002-9124-6131

[2] Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU). João Pessoa, Paraíba (PB). Brasil (BR). E-mail: ruthaaraujo@gmail.com ORCID: 0000-0002-6954-9953

[3] Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU). João Pessoa, Paraíba (PB). Brasil (BR). E-mail: lopeseduarda430@gmail.com ORCID: 0000-0001-8647-0190

[4] Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU). João Pessoa, Paraíba (PB). Brasil (BR). E-mail: beatriz.ps123@hotmail.com ORCID: 0000-0002-2835-7322

[5] Universidade Federal da Paraíba (UFPB). João Pessoa, Paraíba (PB). Brasil (BR). E-mail: allandobu@gmail.com ORCID: 0000-0001-8202-7212

 

Como citar: Oliveira ASC, Almeida RA, Lopes MEB, Cavalcante JBP, Silva AB. Mortalidade por câncer de traqueia, brônquios e pulmões no Nordeste do Brasil, 2002-2019. J. nurs. health. 2022;12(2):e2212222235. Disponível em: https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/JONAH/article/view/4323





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