Prevalência de diabéticos, hipertensos e atividade física em Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Prevalence of diabetic, hypertensive, and physical activity in Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Prevalencia de diabéticos, hipertensos y actividad física en Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Silveira, Fernanda de Castro;[1] Oliveira, Eduardo Soldera[2]
RESUMO
Objetivo: identificar a prevalência de diabéticos e hipertensos, a partir dos 18 anos, de acordo com perfil sociodemográfico e de prática de atividade física, no município de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul. Método: estudo com dados da Vigilância de Fatores de Risco e proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico do ano de 2019, do tipo transversal, com análise bivariada. Resultados: dos 2.058 indivíduos, predominou o sexo feminino (65,5%), com mais de 60 anos (55,1%), escolaridade até o primeiro grau (31,2%) e que praticavam atividade física (93,4%). A prevalência de diabéticos foi de 279 (13,6%) e de hipertensos, 866 (42,1%). Idade, escolaridade, frequência e duração da atividade física foram associadas à Hipertensão. E idade, e escolaridade, com Diabetes. Conclusão: houve alta prevalência de hipertensos e baixa frequência, na prática de atividade física.
Descritores: Exercício físico; Diabetes mellitus; Hipertensão; Estudos transversais; Prevalência
ABSTRACT
Objective: to identify the prevalence of diabetic and hypertensive patients aged 18 years and over, according to the sociodemographic profile and physical activity practice, in the city of Porto Alegre, capital of the State of Rio Grande of Sul. Method: study with surveillance data of Risk and Protection Factors for Chronic Diseases by Telephone Survey of the year 2019, cross-sectional, with bivariate analysis. Results: of the 2,058 individuals, there was a predominance of females (65.5%), aged over 60 (55.1%), educated up to elementary school (31.2%) and practiced physical activity (93.4 %). The prevalence of diabetics was 279 (13.6%) and of hypertensive patients, 866 (42.1%). Age, education, frequency, and duration of physical activity were associated with Hypertension. And age, and education, with Diabetes. Conclusion: there was high prevalence of hypertensive and low frequency in the practice of physical activity.
Descriptors: Exercise; Diabetes mellitus; Hypertension; Cross-sectional studies; Prevalence
RESUMEN
Objetivo: identificar la prevalencia de pacientes diabéticos e hipertensos de 18 años y más, según perfil sociodemográfico y práctica de actividad física, en la ciudad de Porto Alegre, capital del estado de Rio Grande do Sul. Método: estudio con datos de vigilancia de Factores de Riesgo y Protección de Enfermedades Crónicas por Encuesta Telefónica del año 2019, transversal, con análisis bivariado. Resultados: de los 2.058 individuos, hubo predominio del sexo femenino (65,5%), mayores de 60 años (55,1%), con estudios hasta primaria (31,2%) y actividad física practicada (93,4%). La prevalencia de diabéticos fue 279 (13,6%) y de hipertensos, 866 (42,1%). La edad, la educación, la frecuencia y la duración de la actividad física se asociaron con la hipertensión. Y edad y educación, con la diabetes. Conclusión: hubo una alta prevalencia de hipertensos y baja frecuencia en la práctica de actividad física.
Descriptores: Ejercicio físico; Diabetes mellitus; Hipertensión; Estudios transversales; Prevalencia
INTRODUÇÃO
As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) são a maior causa de óbito no mundo, atingindo um percentual de 63% das mortes, no ano de 2010.¹ Estudo epidemiológico mostrou um aumento na prevalência da obesidade, particularmente nas últimas duas décadas. Esta prevalência está associada aos diversos fatores, mas principalmente pela inatividade física e alimentação inadequada. As complicações relacionadas às doenças crônicas como Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, dentre outras, podem ser reduzidas por meio da alteração do estilo de vida para hábitos saudáveis, eliminando fatores como inatividade física, tabagismo, consumo de álcool e obesidade.²
As DCNTs, individualmente, promovem uma sobrecarga fisiológica no sistema corporal, debilitando o estado de saúde e facilitando o aparecimento de outras doenças. A investigação sobre a prevalência de patologias em estudos populacionais tem sido bastante explorada no Brasil, principalmente quanto à investigação de fatores associados. As DCNTs atingem indivíduos de todos os extratos socioeconômicos, e de forma mais intensa, aqueles pertencentes aos grupos vulneráveis, como os de baixa escolaridade e renda menor.³
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 20194, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demostrou que na população de maioridade, foram identificados como insuficientemente ativos um percentual de 40,3%, ou seja, não realizavam exercícios físicos ou praticavam por um tempo menor que 150 minutos semanais levando em conta lazer, ocupacional e deslocamento para a atividade laboral. Na população brasileira, 47,5% das pessoas do sexo feminino são inativas e quanto ao sexo masculino apresentam um percentual menor de 32,1%. Além disso, 59,7% dos indivíduos com mais de 60 anos de idade são pouco ativos.4 São classificadas pessoas fisicamente ativas no lazer, aquelas que realizam qualquer exercício físico além das realizadas na escola ou na atividade laboral, ou seja, 150 minutos semanais em atividades moderadas ou 75 minutos semanais em atividades vigorosas.5
Pesquisa demonstrou uma relação inversamente proporcional entre o nível de atividade física e o aparecimento de doenças crônicas, bem como a relação inversamente proporcional entre o aumento da intensidade, o tempo da atividade com os valores do Índice de Massa Corporal.6 Entre os comportamentos considerados protetores para a saúde, a prática regular de atividade física tem sido reconhecida como capaz de prevenir ou retardar o aparecimento de doenças, bem como melhorar os fatores de risco.7
Com o propósito de contribuir para a compreensão das DCNTs e os possíveis indicadores desse estado de saúde, o presente estudo teve como objetivo identificar a prevalência de diabéticos e hipertensos, a partir dos 18 anos, de acordo com perfil sociodemográfico e de prática de atividade física, no município de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul (RS).
MATERIAL E MÉTODO
A pesquisa transversal consistiu em uma análise de dados secundários, do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas não Transmissíveis (VIGITEL), disponíveis na internet, no sítio eletrônico: http://svs.aids.gov.br/download/Vigitel/. Esse sistema realiza, um inquérito nacional, anualmente desde 2006, em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Neste estudo foram utilizadas informações sobre a população da capital Porto Alegre – RS, de janeiro a dezembro de 2019.
A coleta de dados foi realizada conforme os critérios de inclusão do VIGITEL, com os indivíduos na idade de 18 anos ou mais (população considerada adulta) e residentes em domicílios com linha telefônica fixa. A realização do processo de amostragem considerou os critérios de estimava das variáveis de fatores de risco e proteção para DCNT com nível de confiança de 95% e erro máximo de 2 pontos percentuais, levando ao tamanho da amostra de 2 mil indivíduos em cada cidade.8
A definição das linhas elegíveis para amostra foi elaborada em três etapas: a seleção estratificada por código de endereçamento postal, o reconhecimento das linhas elegíveis, concomitantemente à realização das entrevistas, e o sorteio do participante do inquérito para a realização da entrevista, entre todos os adultos residentes no domicílio. A descrição desse processo, em sua íntegra, encontra-se no relatório publicado pelo Ministério da Saúde.8
Os dados foram coletados mediante entrevista telefônica e recursos de computador, concomitantemente. O instrumento utilizado foi validado em estudos piloto prévios.8 As variáveis de desfecho foram a Hipertensão Arterial e a Diabetes Mellitus. Estas doenças foram mensuradas pela resposta afirmativa à pergunta: Algum médico já lhe disse que o(a) Sr(a) tem Diabetes/Pressão Alta?
As variáveis de exposição analisadas foram: sexo (masculino/feminino), idade em anos categorizada (18-30 anos/31-60 anos/61 anos ou mais), escolaridade (curso primário, admissão, curso ginasial ou ginásio ou 1º grau ou fundamental ou supletivo de 1º grau/2º grau ou colégio ou técnico ou normal ou científico ou ensino médio ou supletivo de 2º grau/3º grau ou curso superior/pós-graduação: especialização, mestrado ou doutorado/nunca estudou), prática de exercício uma vez na semana (sim/não), frequência do exercício (1 a 2 dias por semana/3 a 4 dias por semana/5 a 6 dias por semana/todos os dias inclusive sábado e domingo), duração do exercício (menos que 10 minutos/entre 10 e 19 minutos/entre 20 e 29 minutos/ entre 30 e 39 minutos/entre 40 e 49 minutos/ entre 50 e 59 minutos/60 minutos ou mais).
Os dados primeiramente foram transcritos para o Microsoft Excel e após foram analisados pelo pacote estatístico Stata 14.2 (Stata Corp., College Station, Estados Unidos). Para a análise estatística foi utilizada a análise descritiva das variáveis (frequência absoluta e relativa) e na análise bivariada as prevalências foram calculadas para cada variável independente e o teste qui-quadrado para heterogeneidade foi utilizado para identificar diferenças estatisticamente significativas entre os estratos (p < 0,05).
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi registrado por consentimento verbal, haja vista tratar-se de um inquérito telefônico. O estudo foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para Seres Humanos do Ministério da Saúde (Certificado de Apresentação de Apreciação Ética nº 65610017.1.0000.0008).
RESULTADOS
Dos 2.058 indivíduos participantes, havia predomínio pelo sexo feminino (65,5%), com idade entre 61 anos ou mais (55,1%), com curso primário, admissão, ginasial ou primeiro grau (31,2%). A maioria praticava exercício físico uma vez por semana (93,4%), estes praticantes tinham frequência de exercício de um a dois dias por semana (37,1%) e duração de exercício 60 minutos ou mais (59,4%), conforme demonstrado na Tabela 1. Tabela 1. Descrição das variáveis do estudo Vigilância de Fatores de Risco e proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, na capital Porto Alegre, 2019 (n=2.058) |
||
Variáveis |
n |
% |
Sexo (n=2.058) |
|
|
Masculino |
710 |
34,5 |
Feminino |
1348 |
65,5 |
Idade (n=2.058) |
|
|
18 a 30 anos |
192 |
9,3 |
31 a 60 anos |
732 |
35,6 |
61 anos ou mais |
1134 |
55,1 |
Diabetes Mellitus (n=2.057)* |
|
|
Sim |
279 |
13,6 |
Não |
1778 |
86,4 |
Hipertensão (n=2.057)* |
|
|
Sim |
866 |
42,1 |
Não
|
1191 |
57,9 |
Escolaridade (n=2.032)* |
|
|
Curso primário, admissão, curso ginasial ou ginásio ou 1º grau ou fundamental ou supletivo de 1º grau |
634 |
31,2 |
2º grau ou colégio ou técnico ou normal ou científico ou ensino médio ou supletivo de 2º grau |
621 |
30,6 |
3º grau ou curso superior |
593 |
29,2 |
Pós-graduação: especialização, mestrado ou doutorado |
137 |
6,7 |
Nunca estudou |
47 |
2,3 |
Prática de exercício uma vez por semana (n=1.142)* |
|
|
Sim |
1067 |
93,4 |
Não |
75 |
6,6 |
Frequência do exercício (n=1.067) |
|
|
1 a 2 dias por semana |
395 |
37,1 |
3 a 4 dias por semana |
373 |
34,9 |
5 a 6 dias por semana |
193 |
18,1 |
Todos os dias (inclusive sábado e domingo) |
106 |
9,9 |
Duração do exercício (n=1.067) |
|
|
Menos que 10 minutos |
6 |
0,6 |
Entre 10 e 19 minutos |
27 |
2,5 |
Entre 20 e 29 minutos |
38 |
3,6 |
Entre 30 e 39 minutos |
147 |
13,8 |
Entre 40 e 49 minutos |
170 |
15,9 |
Entre 50 e 59 minutos |
45 |
4,2 |
60 minutos ou mais |
634 |
59,4 |
*n diferente refere-se aos que responderam a variável.
Fonte: VIGITEL, 2019.
De acordo com as análises bivariadas para o desfecho Hipertensão arterial as variáveis independentes que foram encontradas associações significativas são: idade, escolaridade, frequência do exercício e duração do exercício. Para o desfecho Diabetes Mellitus as variáveis independentes que foram encontradas associações significativas são: idade e escolaridade. Destaca-se que em relação às DCNTs, 866 (42,1%) dos adultos apresentavam Hipertensão e 279 (13,6%) Diabetes Mellitus. Destes 208 (10,1%) pessoas apresentavam simultaneamente as duas doenças (Tabela 2).
Tabela 2. Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus de acordo com as variáveis independentes do estudo Vigilância de Fatores de Risco e proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, na capital Porto Alegre, 2019 (n=2.058) |
||||
Variáveis |
Diabetes Mellitus 279 (13,6%) |
p |
Hipertensão Arterial 866 (42,1%) |
p |
|
n (%) |
|
n (%) |
|
Sexo (n=2.058) |
|
0,440 |
|
0,067 |
Masculino |
102 (36,5%) |
|
279 (32,2%) |
|
Feminino |
177 (63,5%) |
|
587 (67,8%) |
|
Idade (n=2.058) |
|
<0,001 |
|
<0,001 |
18 a 30 anos |
1 (0,4%) |
|
11 (1,3%) |
|
31 a 60 anos |
67 (24,0%) |
|
220 (25,4%) |
|
61 anos ou mais |
211 (75,6%) |
|
635 (73,3%) |
|
Escolaridade (n=2.032)* |
|
<0,001 |
|
<0,001 |
Curso primário, admissão, curso ginasial ou ginásio ou 1º grau ou fundamental ou supletivo de 1º grau |
141 (51,6%) |
|
346 (40,8%) |
|
2º grau ou colégio ou técnico ou normal ou científico ou ensino médio ou supletivo de 2º grau |
71 (26,0%) |
|
241(28,4%) |
|
3º grau ou curso superior |
40 (14,7%) |
|
191(22,5%) |
|
Pós-graduação: especialização, mestrado ou doutorado |
8 (2,9%) |
|
38 (4,5%) |
|
Nunca estudou |
13 (4,8%) |
|
31 (3,8%) |
|
Prática de exercício uma vez por semana (n=1.142)* |
|
0,536 |
|
0,840 |
Sim |
109 (94,8%) |
|
386 (92,2%) |
|
Não |
6 (5,2%) |
|
28 (7,8%) |
|
Frequência do exercício (n=1.067) |
|
0,456 |
|
0,030 |
1 a 2 dias por semana |
35 (32,1%) |
|
157 (40,7%) |
|
3 a 4 dias por semana |
39 (35,8%) |
|
116 (30,0%) |
|
5 a 6 dias por semana |
20 (18,3%) |
|
67 (17,4%) |
|
Todos os dias (inclusive sábado e domingo) |
15 (13,8%) |
|
46 (11,9%) |
|
Duração do exercício (n=1.067) |
|
0,094 |
|
0,018 |
Menos que 10 minutos |
0 (0,0%) |
|
4 (1,0%) |
|
Entre 10 e 19 minutos |
4 (3,7%) |
|
12 (3,1%) |
|
Entre 20 e 29 minutos |
6 (5,5%) |
|
20 (5,2%) |
|
Entre 30 e 39 minutos |
20 (18,3%) |
|
60 (15,5%) |
|
Entre 40 e 49 minutos |
24 (22,0) |
|
70 (18,1%) |
|
Entre 50 e 59 minutos |
3 (2,8%) |
|
16 (4,1%) |
|
60 minutos ou mais |
52 (47,7%) |
|
204 (53,0%) |
|
*n diferente refere-se aos que responderam a variável.
Fonte: VIGITEL, 2019.
DISCUSSÃO
O presente estudo mostrou uma alta prevalência de Hipertensão, quando comparada as demais capitais brasileiras, classificando em terceiro lugar.8 Ademais, apresentou a prevalência mais alta de Diabetes entre as capitais do Brasil.8 E demonstrou uma prática insuficiente de atividade física semelhante as outras capitais brasileiras.8 As capitais apresentam algumas características que afetam o estilo de vida das pessoas que são diferentes das demais cidades, com maior aglomeração de pessoas, trânsito, violência, poluição, maior oferta de alimentos não saudáveis, maior ocupação das áreas destinadas a prática de atividade física e maior ocupação dos serviços de saúde. Entre as estratégias que objetivam melhorar o controle da pressão arterial, intervenções em equipe têm se mostrado muito promissoras.9 Essas estratégias consistem em intervenções organizacionais centradas no paciente, multifacetadas, lideradas por equipes multidisciplinares, que objetivam melhorar a qualidade do cuidado à Hipertensão.
A prevalência de Hipertensão é determinada pela interferência de diversas variáveis: demográficas, hereditárias, socioeconômicas, comportamentais, antropométricas e outras. Grande parte desses fatores podem ser controlados ou modificados, sendo possível diminuir o surgimento das DCNT e de suas consequências. Portanto, mapear os fatores associados, bem como conhecer a sua gravidade, constitui elemento de extrema importância para subsidiar ações de controle da pressão arterial.10
Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) feita pelo IBGE, um montante de 196.439 pessoas, com mais de 20 anos de idade, participaram da PNAD em 1998, 231.921 em 2003 e 250.664 em 2008. Os percentuais de Hipertensão arterial autorreferida foram de 18,0% (IC95%: 17,9-18,2) em 1998, 19,2% (IC95%: 19,0-19,4) em 2003 e 20,9% (IC95%: 20,7-21,0) em 2008, subindo nos períodos analisados, sendo sempre mais elevados dentre as pessoas do sexo feminino.11 Um estudo realizado em Pernambuco verificou uma prevalência de Hipertensão de 27,4% (IC95% 23,2 – 32,0).12 A prevalência de Hipertensão encontrada neste estudo na região Sul, foi bem maior que nos estudos citados, e foi ao encontro de ser mais no sexo feminino.
Pressão arterial elevada é o fator de risco tratável mais importante de acidente vascular cerebral, fibrilação atrial e insuficiência cardíaca. Reduções na pressão alta são efetivas para prevenir lesões nos órgãos alvo, eventos cardiovasculares e morte em condições clínicas variadas envolvendo diferentes níveis de pressão, perfis de risco cardiovascular, e comorbidades.13-14 Apesar disso, a Hipertensão não controlada continua uma situação muito prevalente em todo o mundo.15
Os casos de Diabetes Mellitus, mesmo que em menor prevalência em relação à Hipertensão no presente estudo, merecem atenção, pois em muitos países, a prevalência do Diabetes Mellitus tem se elevado vertiginosamente. Nos países em desenvolvimento há uma tendência de aumento na frequência em todas as faixas etárias, especialmente nas mais jovens, cujo impacto negativo sobre a qualidade de vida e a carga da doença aos sistemas de saúde é imensurável.1 Contrariando os resultados encontrados no presente estudo, que identificou mais casos na faixa etária de 61 anos de idade ou mais.
Os resultados do Diabetes Prevention Program demonstraram uma redução de 58% da incidência dos casos de Diabetes por meio do estímulo à dieta saudável e prática de atividades físicas, sendo essa medida significativamente mais efetiva do que o uso de medicação na prevenção primária do Diabetes tipo 2. O Diabetes Mellitus tipo 2 aumentou no Brasil, sobretudo por causa do aumento nas taxas de prevalência dos fatores de risco, como obesidade e sedentarismo. 16
Outro fator demonstrado no estudo, é a baixa frequência de atividade física. A maioria dos entrevistados prática exercício físico uma a duas vezes por semana, o que se considera um baixo nível de atividade física semanal. Além disso, os homens praticavam mais exercício em relação às mulheres.
Também verificou que o nível educacional é uma variável socioeconômica importante no estado de saúde. A baixa escolaridade está associada às maiores taxas de doenças crônicas não transmissíveis, em especial a Hipertensão Arterial.16 No presente estudo, foi identificada associação da baixa escolaridade com a Hipertensão e com a Diabetes Mellitus. Desse modo, o grau de escolaridade é elemento essencial a ser considerado na abordagem da população em relação às práticas de promoção, proteção e recuperação da saúde.10
Portanto, o conhecimento da interferência dos fatores sociodemográficos, dos fatores de risco modificáveis e a adesão as medidas comportamentais são fundamentais. A atividade física é primordial no controle dos níveis pressóricos, sabendo que o sedentarismo (ausência de atividade física ou prática de atividade física inferior a 150 minutos por semana) é fator de risco para obesidade, Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial Sistêmica.17 Ações preventivas devem ser adotadas para que haja mudança no estilo de vida das pessoas e, consequentemente, redução dos agravos e de outras doenças.18
A possibilidade de monitorar as prevalências e medidas de controle para Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus em diferentes estudos possibilita adotar medidas condutas fundamentais no subsídio de planejamento de ações e definição de prioridades em saúde.19
Outro fator importante são os espaços públicos que podem promover a igualdade na saúde, proporcionando um lugar para as pessoas participarem de atividades físicas. Visto que a maioria dos estudos mostra uma associação positiva entre espaços públicos e atividade física.20-21
As limitações de generalização dos dados, de fontes secundárias, também decorrem de que todas as informações obtidas são autorreferidas em entrevista telefônica e os indivíduos que não possuem uma linha telefônica fixa e não são residentes das capitais de Estados brasileiros não são incluídos no estudo. Entretanto, isso é amenizado por meio da utilização de fatores de ponderação dos dados, que buscam calcular os percentuais, considerando as diferenças nas variáveis demográficas da amostra do VIGITEL em relação às características da população total, com a pós-estratificação.
CONCLUSÕES
Conclui-se que o estudo identificou alta prevalência de hipertensos associada a idade, escolaridade, frequência e duração do exercício físico; Diabetes associada a idade e escolaridade; e baixa frequência na prática de atividade física. Ações efetivas devem ser realizadas em benefício da população, sendo necessárias recomendações para a redução das DCNTs no Brasil. Isso requer um grande esforço para que sejam cumpridas as metas, pois é possível prevenir e tratar as doenças através de alimentação adequada e saudável. Além disso, estes achados podem ser usados para incentivar o aumento na frequência regular na prática de atividade física, principalmente para estes grupos de risco. Sendo necessário espaços físicos adequados e seguros para a realização dos exercícios físicos.
O inquérito VIGITEL constitui uma das iniciativas mais exitosas entre as bases de dados nacionais e uma importante fonte de informação e monitoramento sobre as condições de saúde da população, os hábitos de vida, características epidemiológicas das DCNT, devendo ser utilizado em larga escala pelos pesquisadores em seus estudos.
REFERÊNCIAS
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Recebido em: 24/03/2021
Aceito em: 04/11/2021
[1] Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: fernandanutri1981@gmail.com ORCID: 0000-0002-5593-0518
[2] Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Rio Grande, Rio Grande do Sul (RS). Brasil (BR). E-mail: eduardo_soldera@hotmail.com ORCID: 0000-0003-3958-2186
Como citar: Silveira FC, Oliveira ES. Prevalência de diabéticos, hipertensos e atividade física em Porto Alegre, Rio Grande do Sul J. nurs. health. 2022;12(1):e2212120858. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/20858
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