Silva ROC, Bonan KFZ, Rosa FC, Cunha GR, Müller EV, Favero GM, et al. Ações extensionistas na prevenção, cuidados e combate à pandemia por Coronavírus nas divisas do Paraná. J. nurs. health. 2020;10(n.esp.):e20104025
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/19243
ARTIGO ORIGINAL
Ações extensionistas na prevenção, cuidados e combate à pandemia por Coronavírus nas divisas do Paraná
Extensionist actions to prevent, care and combat pandemic by Coronavirus on the borders of Paraná
Acciones extensionistas para prevenir, cuidar y combatir pandemia por Coronavirus en las fronteras de Paraná
Silva, Ruann Oswaldo Carvalho da[1]; Bonan, Karoline Fernanda Zamboni[2]; Rosa, Flávia Castro[3]; Cunha, Graziela Ribeiro da[4]; Müller, Erildo Vicente[5]; Favero, Giovani Marino[6]; Ditterich, Rafael Gomes[7]; Silva, Carla Luiza da[8]
RESUMO
Objetivo: descrever as atividades extensionistas de prevenção, cuidados e combate à pandemia por coronavírus nas divisas do Paraná. Método: estudo observacional, descritivo de dados provenientes das Ações Extensionistas Prevenção, Cuidados e Combate à Pandemia do Novo Coronavírus - Atenção às divisas rodoviárias do Estado, realizadas de abril a junho de 2020. Resultados: o programa contou com três ações diferentes, sendo desenvolvidas por uma equipe multiprofissional: ações educativas no pedágio, no contêiner da saúde, na ronda ao longo da rodovia e no projeto Saúde na Estrada. Conclusões: a ação possibilitou o trabalho de prevenção e promoção de saúde à população, além de proporcionar aos profissionais de saúde uma visão ampliada do trabalho em equipe e de um problema de saúde pública.
Descritores: Infecções por coronavírus; Educação em saúde; Estradas
ABSTRACT
Objective: to describe extensionist actions of prevention, care and cope of pandemic by coronavirus on the borders of Paraná. Method: observational study, descriptive of data from the Extensionist Actions to Prevent, Care and Combat the New Coronavirus Pandemic - Attention to the road boundaries of the State, from April to June 2020. Results: the program had three different actions, being developed by a multiprofessional team: educational actions at the toll, at a mobile outpatient clinic, at rounds on the road and at Health on Road project. Conclusions: the action made it possible to prevent and promote health to the population, besides provided an expanded view of teamwork for professionals and a public health problem.
Descriptors: Coronavirus infections; Health education; Roads
RESUMEN
Objetivo: describir extensionistas acciones de prevención, cuidado y frente al pandemia por el coronavirus en las fronteras de Paraná. Método: estudio observacional, descriptivo de los dados del Acciones extensionistas de prevención, atención y combate de pandemia por el nuevo coronavirus - Atención a los límites de las carreteras del Estado, de abril a junio de 2020. Resultados: el programa tenía tres acciones diferentes desarrolladas por un equipo multiprofesional: acciones educativas en el peaje, en el contenedor de salud, en la ronda a lo largo de la carretera y en el proyecto Saúde na Estrada. Conclusiones: la acción permitió el trabajo de prevención y promoción de la salud de la población, además de proporcionar a los profesionales de la salud una visión ampliada del trabajo en equipo y un problema de salud pública.
Descriptores: Infecciones por coronavirus; Educación en salud; Carreteras
INTRODUÇÃO
Em dezembro de 2019, inúmeros casos de uma desconhecida infecção respiratória foram reportados em Wuhan, na província de Hubei, China, associados à exposição de indivíduos em um mercado de comercialização de animais vivos.1 Descobriu-se, então, que se tratavam dos primeiros casos do novo coronavírus denominado de Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave - 2 (SARS-CoV-2), o qual é causador do que foi denominado Coronavirus Disease 2019 ou doença do novo Coronavírus (COVID-19),1 cujos principais sintomas e sinais clínicos são: febre, tosse, dispneia, mialgia, fadiga, dor de cabeça, falta de ar, anosmia e disgeusia, sendo de maior gravidade em pessoas idosas e com comorbidades.2 A transmissão do SARS-CoV-2 acontece, principalmente, por meio de gotículas de saliva e contato direto com superfícies contaminadas3 e, sabe-se que, indivíduos assintomáticos também podem transmitir a doença.4
O Brasil teve o primeiro caso confirmado de COVID-19 no dia 25 de fevereiro de 2020,5 e o Paraná teve sua primeira comprovação no dia 12 de março de 2020,6 um dia após a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificar o surto como uma pandemia.7 No dia 15 de julho de 2020, enquanto o Brasil apresentava 1.884.967 casos confirmados, o Paraná alcançou a marca de 46.601 infectados.8 Devido ao crescente número de casos, foi necessário implementar, pelo poder público, diversas medidas de contenção da propagação do vírus, como a obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção em vias públicas, o incentivo à higienização das mãos com maior frequência e o distanciamento social.9
Embora a recomendação fosse ficar em casa em isolamento, muitos profissionais responsáveis por serviços essenciais não puderam se afastar do trabalho, e mantiveram sua rotina como, por exemplo, grande parte dos trabalhadores da estrada, que podem ser, de maneira geral, definido como caminhoneiros, ajudantes e cônjuges, que rodam o país transportando cargas de todos os tipos.10 A entrada de indivíduos no Estado por meio das rodovias, portos e aeroportos é de fundamental importância para que as políticas públicas também observem a circulação geográfica interestadual como vetor ainda iminente (somado a transmissão comunitária). Com o fechamento total ou parcial dos aeroportos, mas com a livre circulação pelas rodovias, identificar a malha rodoviária do Estado, com destaque para as estradas interestaduais e suas posições em relação às cidades com casos confirmados é uma estratégia assertiva.11 Além disso, o fluxo de pessoas nas estradas conecta áreas industriais, comerciais e de turismo, municípios mais populosos e estabelece fortes laços sociais, culturais e econômicos.12
O sistema rodoviário tem forte influência na disseminação da doença, como uma mercadoria indesejada ao longo das rodovias,12 uma vez que o público da estrada roda o país e tem contato com pessoas de todos os lugares. Sendo assim, precisa estar sempre atento às medidas de proteção individual e coletiva, como a higienização das mãos, e atualizado quanto à situação da pandemia. Dado o contexto, o objetivo deste trabalho foi descrever as atividades extensionistas de prevenção, cuidados e combate à pandemia por Coronavírus nas divisas do Paraná.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, observacional, quantitativo, de dados proveniente das ações extensionistas de uma equipe multiprofissional (enfermeiros, técnicos de enfermagem, cirurgiões-dentistas, psicólogos e médicos veterinários) no combate e prevenção ao Sars-Cov-2, realizadas nas divisas rodoviárias do estado do Paraná, no período de abril a junho de 2020.
Estas ações são integrantes do Programa de Apoio Institucional para Ações Extensionistas de Prevenção, Cuidados e Combate à Pandemia do Novo Coronavírus - Atenção às divisas rodoviárias do Estado do Paraná – e é financiado pela Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná (FA) em parceria com a Secretaria de Saúde do Paraná (SESA), Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) e Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A equipe que atuou no desenvolvimento das ações do projeto aqui descritas foi composta por 16 profissionais e acadêmicos de diversas instituições que se inscreveram em editais específicos para participar como bolsistas, formando uma equipe multiprofissional composta pelas áreas de Enfermagem, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia e Psicologia.
As ações extensionistas realizadas consistiram em três atividades, sendo elas: abordagem educativa no pedágio, contêiner e ronda, e Saúde na Estrada, as quais serão descritas a seguir. Os bolsistas do projeto atuaram nessas três atividades em sistema de rodízio, baseado em escala pré-definida.
Durante a abordagem dos veículos no pedágio, foram coletados dados referentes à procedência dos motoristas, à quantidade de passageiros e ao número de pessoas sintomáticas por veículo. Os dados levantados foram tabulados em planilhas de Excel e analisados por meio de estatística descritiva.
Um questionário aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná foi aplicado (parecer n.º 4.087.832 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética da Plataforma Brasil n.º 32121120.3.3003.5225) ao público participante da ação de Saúde na Estrada nos municípios de Campina Grande do Sul e São José dos Pinhais, ambos no Paraná, com o intuito de analisar o perfil do público da estrada e sua relação com a saúde.
RESULTADOS
Ações no Pedágio
Os integrantes do projeto foram divididos em dois grupos de trabalho e atuaram repassando orientações aos viajantes que estavam entrando no estado do Paraná (PR), na divisa com São Paulo (SP). As ações ocorreram no Pedágio Autopista Régis Bittencourt, localizado na Rodovia Régis Bittencourt, km 57 (BR-116) Campina Grande do Sul, PR, de segunda a sábado das 08 às 17 horas. Com o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), nesta ação, os bolsistas foram divididos em duas equipes de oito integrantes que atuavam em dias alternados realizando abordagem educativa dos viajantes em carros, motos e caminhões de pequeno porte, totalizando 17.064 veículos abordados oriundos principalmente do Estado do Paraná e de São Paulo (Tabela 1).
Tabela 1: Número abordagens da ação extensionista de atenção às divisas rodoviárias do Paraná no período de abril a junho de 2020. Paraná, 2020. N=36.310
Forma de abordagem |
Período |
TOTAL |
||
Abril |
Maio |
Junho |
||
Veículos oriundos do Paraná |
3.682 |
3.180 |
1.381 |
8.243 |
Veículos oriundos de São Paulo |
2.546 |
3.201 |
1.515 |
7.262 |
Veículos oriundos de outros estados |
789 |
589 |
181 |
1.559 |
Pessoas abordadas |
14.837 |
14.834 |
6.639 |
36.310 |
Pessoas sintomáticas |
32 |
15 |
8 |
55 |
Fonte: próprios autores, 2020.
Por meio de um folheto educativo (Figura 1 e 2), os passageiros foram orientados sobre as principais medidas de prevenção da COVID-19 e sobre o aplicativo Telemedicina Paraná como um novo modelo assistencial no período de isolamento. O aplicativo facilita o monitoramento da doença no Estado, pois permite que o cidadão se cadastre e informe sua condição de saúde, podendo ter encaminhamentos via telemedicina, caso necessário. Além de orientações, os transeuntes tiveram a temperatura aferida (com termômetros de infravermelho) antes de continuar a viagem.
Caso o motorista ou passageiro relatasse o desenvolvimento de sinais e sintomas de síndrome gripal nas últimas semanas, era encaminhado ao ambulatório móvel (próximo tópico), onde recebia orientações mais detalhadas, e, caso se enquadrasse nos requisitos constantes na Nota Técnica da SESA-PR,13 poderia fazer o teste rápido para a doença. A nota 7/2020-DAV/SESA-PR,13 publicada na data de 14 de abril de 2020, esmiúça os critérios para a realização de testagem para detecção de anticorpos Imunoglobulina G (IgG) e Imunoglobulina M (IgM )da síndrome do Sars-CoV-2. Para a realização do exame, o indivíduo deve apresentar sintomas pelo período mínimo de sete dias completos e estar sem nenhuma sintomatologia por pelo menos 72 horas. O indivíduo que obtivesse resultado reagente, deveria cumprir os 14 dias de isolamento domiciliar a partir do início dos sintomas.
Contêiner e ronda
No início de maio de 2020, todos os profissionais e estudantes envolvidos no projeto foram capacitados pela SESA-PR para que pudessem realizar o teste rápido da COVID-19 de forma correta e padronizada. A partir da capacitação, foi estabelecida uma parceria do projeto com a Prefeitura Municipal de Campina Grande do Sul e um posto de combustível da rede privada que possibilitou a aquisição de um ambulatório móvel (contêiner) que foi disposto em um posto de combustíveis da rede Ipiranga®, localizado na Rodovia Régis Bittencourt, km 68,5, próximo ao pedágio. O contêiner foi adaptado para funcionar como um posto de atendimento avançado, oferecendo uma melhor estrutura para que os bolsistas do projeto pudessem realizar uma anamnese mais acurada, aferir pressão arterial, temperatura com termômetro infravermelho, medir glicemia capilar, verificar a oxigenação, e também a possibilidade de realizar o teste rápido para COVID-19 em cidadãos que se enquadravam nos critérios para o exame conforme Nota Técnica.13 As pessoas abordadas no pedágio que relataram sinais e sintomas de COVID-19 foram orientadas a procurar o contêiner para maiores esclarecimentos e realização do teste rápido.
Concomitantemente, procedeu-se a realização de rondas de caráter educativo e com a finalidade de busca ativa de casos suspeitos nos comércios e postos de combustíveis ao longo da rodovia BR-116, no município de Campina Grande do Sul, PR. Por meio da ronda, um total de 75 estabelecimentos comerciais, como borracharias, restaurantes, mercados e postos de gasolina localizados ao longo da rodovia receberam a visita educativa dos bolsistas no período. Ao todo, 400 pessoas foram orientadas nesta atividade quanto às medidas de prevenção da COVID-19 pelos integrantes do projeto.
Tanto na ronda, quanto no contêiner, foram realizados testes rápidos em indivíduos que se enquadravam nos critérios estabelecidos pela SESA-PR.13 No total, foram realizados 98 testes rápidos, sendo que oito destes foram considerados reagentes ao SARS-CoV-2.
Saúde na Estrada
O programa Saúde na Estrada é realizado nos Postos Ipiranga Rodo Rede®. É um projeto que oferece atendimento ao público da estrada, fornecendo exames gratuitos que ajudam na prevenção de doenças, como diabetes, hipertensão e obesidade, e, nesse momento de pandemia está contribuindo também para aumentar a segurança nas estradas, com orientações acerca o novo Coronavírus.
O projeto formalizou um apoio com a SESA, instituições de ensino superior e técnico (Universidade Federal do Paraná e Universidade Estadual de Ponta Grossa), Polícia Rodoviária Estadual (PRE) e PRF. Na experiência da Região Metropolitana de Curitiba realizada nos municípios de Campina Grande do Sul e São José dos Pinhais, a ação contou com o apoio de cirurgiões-dentistas, enfermeiros, médicos veterinários, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde que compuseram a equipe de profissionais; enquanto a equipe de estudantes foi formada por acadêmicos e professores de enfermagem, medicina e odontologia.
Dentre as ações do projeto, profissionais e estudantes realizaram vacinação com a vacina contra o sarampo, caxumba e rubéola, conhecida como tríplice viral, e com a vacina influenza trivalente; aferiram pressão arterial e temperatura; verificaram a glicemia capilar; e fizeram testes rápidos e Reverse Transcription - Polymerase Chain Reaction (RT-PCR) para Sars-Cov-2 nos casos suspeitos no público da estrada, composto por caminhoneiros, ajudantes e cônjuges. Em tempos de pandemia ocasionada pelo Sars-Cov-2, faz-se muito necessário cuidar e informar essa população em específico sobre os riscos da doença.
Com relação ao questionário do projeto Saúde na Estrada, 22% dos entrevistados são tabagistas e 35% possuem alguma comorbidade, tais como hipertensão, diabetes, problemas respiratórios e cardíacos e/ou obesidade. Quando questionados sobre estarem bem ou mal informados sobre a pandemia da COVID-19, 85% afirmaram estar bem informados e 97% relataram que higienizam e/ou trocam a máscara com frequência, por outro lado 22% descreveram a pandemia como fraude, mentira, castigo divino, politicagem e comunismo (Tabela 2).
Tabela 2: Perfil dos participantes do Projeto Saúde na Estrada nos municípios de Campina Grande do Sul e São José dos Pinhais. Paraná, 2020. N=1.174
Variáveis |
Sim |
Não |
||
Sexo masculino |
1.143 |
(97%) |
31 |
(3%) |
Caminhoneiro |
844 |
(72%) |
330 |
(28%) |
Idade entre 40-49 anos |
398 |
(34%) |
776 |
(66%) |
Oriundos do paraná |
656 |
(56%) |
518 |
(44%) |
Presença de comorbidades* |
410 |
(35%) |
764 |
(65%) |
Se consideram bem informados quanto à pandemia |
997 |
(85%) |
177 |
(15%) |
Desacreditam na pandemia |
258 |
(22%) |
916 |
(78%) |
*hipertensão, diabetes, problemas respiratórios e cardíacos e/ou obesidade.
Fonte: dados da pesquisa, 2020.
DISCUSSÃO
A pandemia da COVID-19 tem revelado outra dimensão na qual a educação em saúde requer estratégias diversas para alcançar seu objetivo, dentre elas, as crenças pessoais, a visão de mundo amplamente influenciada por fatores históricos, culturais e sociais, que irão determinar as escolhas dos indivíduos.14
Grande parte dos veículos abordados na ação extensionista de atenção às divisas rodoviárias do Estado do Paraná estavam vindo dos estados de São Paulo e do próprio Paraná (Tabela 1). Isso se torna relevante uma vez que, São Paulo tem sido considerado epicentro da pandemia no Brasil e, portanto, o grande fluxo de veículos e, consequentemente, de pessoas provenientes desse estado pode contribuir para a disseminação do vírus no Paraná. O que evidencia ainda mais a necessidade e importância de ações educativas nas divisas rodoviárias.
Ressalta-se que desde o início das ações extensionistas, um total de 36.310 pessoas foram orientadas no pedágio, sendo 55 delas sintomáticas (Tabela 1). Além das medidas de prevenção da doença a abordagem consistiu em divulgar o aplicativo Telemedicina Paraná, disponível desde o dia 13 de abril de 2020, caracterizado como um serviço de atendimento de saúde online dos casos suspeitos de SARS-CoV-2.15 A utilização dessa ferramenta possibilita agilidade e segurança no atendimento à população, uma vez que evita deslocamentos e aglomerações no serviço de saúde.15
Em um estudo anterior, que comparou países que adotaram testagem em massa, foi possível observar que a testagem para rastreio, monitoramento e isolamento de infectados diminuiu o contágio, e consequentemente achatou a curva de infecção na população.16 Graças aos testes realizados no município de Campina Grande do Sul foi possível identificar pessoas portadoras do vírus, onde moram e sua ocupação, bem como monitorar com quem tiveram contato e orientá-los quanto ao isolamento social. Corroborando a eficácia das medidas de isolamento social, um estudo realizado através de um algoritmo permitiu simular a transmissão comunitária do vírus em diferentes cenários e demonstrou efeito positivo dessas medidas para redução do impacto da propagação do novo coronavírus.17
A maneira como a atividade do caminhoneiro se dá, com longas distâncias a serem percorridas, datas e horários com curtos intervalos para entrega das cargas, remuneração por produtividade, uso de medicamentos para não dormir, pode estar relacionada à gênese de várias doenças.18 Tal situação corrobora os achados do presente estudo, em que 35% dos indivíduos entrevistados apresenta algum fator de risco para COVID-19. Além disso, os profissionais da estrada julgam de modo importante o convívio social como forma de aliviar o sofrimento de estar longe de casa. Este cenário piora ainda mais o distanciamento social necessário ao combate da doença atualmente, uma vez que encontros amigáveis e afetivos podem aumentar a chance de contágio por Sars-CoV-2. O baixo estrato socioeconômico, associado à baixa escolaridade e à disseminação de notícias falsas podem ter relação com os achados do presente estudo,19-20 visto que 22% dos participantes desacredita que a pandemia, de fato, exista, ao mesmo tempo que 85% considera estar bem informado quanto à COVID-19.
Há ainda muita desinformação e divulgação de informações falsas, cabendo aos profissionais e estudantes de cursos da saúde conscientizar, promover saúde e cuidar de pessoas que estão constantemente expostas às doenças ocupacionais e, atualmente, ao novo coronavírus. Um estudo anterior realizado na região sul do Brasil mostrou que as rodovias podem ser potenciais vetores de transmissão comunitária da COVID-19 devido a sua função de transporte de cargas e pessoas.12 Sendo assim, é fundamental que o público da estrada esteja corretamente informado e conscientizado para que possa atuar na contenção da disseminação do vírus pelas rodovias, além de poderem atuar como multiplicadores das informações de saúde para seus familiares. Nessa busca por informações, alguns indivíduos confiam em todo tipo de notícia que encontram em suas redes sociais, sem procurar saber a veracidade da informação. Assim, são disseminadas as Fake News, cujo conteúdo impressiona as pessoas que se encontram em um momento difícil, confuso e com medo. Tais informações não verídicas prejudicam ainda mais o cotidiano e a saúde das pessoas, além de provocar o caos e o desespero.21
Durante o decorrer do estudo, algumas dificuldades foram identificadas como a falta de divulgação das ações para a população e a dificuldade de avaliar o impacto de ações educativas, além de impasses técnicos e estruturais que foram sendo gradativamente ajustados à medida que surgiam. Entretanto, ressalta-se que se trata de um projeto inovador, desenvolvido no estado do Paraná, que pode servir de modelo a ser adotado por outros estados do Brasil no combate à pandemia da COVID-19. Sugere-se que estudos com maiores amplitudes sejam desenvolvidos a fim de avaliar o impacto das ações educativas voltadas para o público da estrada.
CONCLUSÕES
Ações com foco em educação em saúde, realização de testes e orientações de forma geral contribuíram de forma direta para um melhor entendimento da atual situação para a população. Tais medidas, favorecem a disseminação de informações verdadeiras e maior autocuidado.
Há ainda muitas barreiras no enfrentamento da pandemia, mas é importante ressaltar que ações de tecnologias leves, como o cuidado humanizado e a promoção de saúde por meio das ações propostas pelo presente estudo podem fazer com que a população desenvolva seu protagonismo e autonomia em relação à própria saúde.
É necessário que mais ações e estudos sejam feitos a fim de diminuir a curva de infecção, ao passo que aumente a disseminação de informações corretas, orientações adequadas e entendimento que a melhor ação contra o coronavírus, nesse momento se constitui no isolamento social, distanciamento social, autocuidado e se manter atualizado.
Aos participantes desta ação extensionista, foi possível aprender e comprovar, para muitos pela primeira vez, a efetividade e a importância da interprofissionalidade como uma ferramenta primordial na saúde para o combate do novo coronavírus, e, por meio desta, foi permissível também o aprendizado pelo compartilhamento e exercício de técnicas não rotineiras às determinadas profissões.
AGRADECIMENTOS
A todos os profissionais e estudantes envolvidos no Programa de Apoio Institucional para Ações Extensionistas de Prevenção, Cuidados e Combate à Pandemia do Novo Coronavírus - Atenção às Divisas do Paraná e também, à Fundação Araucária de Apoio e Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná (FA) que, em parceria, com a Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) e a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), financiaram bolsas para este projeto.
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19 Sobrinho-Santos CK, Silva AV, Malheiros AF, Trindade RA, Pagan AA. Relatos de caminhoneiros sobre a prevenção do HIV e o material educacional impresso: reflexões para educação em saúde. Ciênc. educ. (Bauru). [Internet]. 2015[acesso em 2020 ago 24];21(4):1011–30. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ciedu/v21n4/1516-7313-ciedu-21-04-1011.pdf
20 Franco SEJ, Hora DJ, Araújo GG, Lemes AG, Rocha EM. Benefícios do projeto de extensão viva bem caminhoneiro para motoristas. Revista Panorâmica [Internet]. 2019[acesso em 2020 ago 25];2(n.esp):69-82. Disponível em: http://revistas.cua.ufmt.br/revista/index.php/revistapanoramica/article/view/1020/19192226
21 Júnior JHS, Raasch M, Soares JC, Ribeiro LVHAS. Da desinformação ao caos: uma análise das fake news frente à pandemia do coronavírus (COVID-19) no Brasil. Cadernos de prospecção [Internet]. 2020[acesso em 2020 jul 25];13(2):331–46. Disponível em: https://cienciasmedicasbiologicas.ufba.br/index.php/nit/article/view/35978/20912
Data de submissão: 17/07/2020
Data de aceite: 26/08/2020
[1] Cirurgião-dentista. Mestre em Políticas Públicas. Universidade Federal do Paraná (UFPR). Paraná (PR), Brasil. E-mail: ruann.carvalho@gmail.com http://orcid.org/0000-0001-8083-8775
[2] Discente do curso de Odontologia. Universidade Federal do Paraná. (UFPR). Paraná (PR), Brasil. E-mail: karolinebonan25@gmail.comhttp://orcid.org/0000-0003-3169-7608
[3] Discente do curso de Odontologia. Universidade Federal do Paraná. (UFPR). Paraná (PR), Brasil. E-mail: fla.schiavinato@gmail.com http://orcid.org/0000-0002-3632-9911
[4] Médica Veterinária Doutora em Ciências Veterinárias. Universidade Federal do Paraná. (UFPR). Paraná (PR), Brasil. E-mail: graziribeiro.vet@gmail.com http://orcid.org/0000-0001-5795-4735
[5] Farmacêutico-bioquímico. Doutor em Saúde Coletiva. Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Paraná (PR), Brasil. E-mail: erildomuller@hotmail.com http://orcid.org/0000-0003-4643-056X
[6] Farmacêutico-bioquímico. Doutor em Alergia e Imunopatologia. Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Paraná (PR), Brasil. E-mail: gmfavero@yahoo.com.br http://orcid.org/0000-0002-1946-3262
[7] Cirurgião-dentista. Doutor em Odontologia em Saúde Coletiva. Universidade Federal do Paraná. (UFPR). Paraná (PR), Brasil. E-mail: prof.rafaelgd@gmail.com http://orcid.org/0000-0001-8940-1836
[8] Enfermeira. Doutora em Ciências. Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Paraná (PR), Brasil. E-mail: clsilva21@hotmail.com http://orcid.org/0000-0002-2600-8954
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