Amestoy SC. Inteligência emocional: habilidade relacional para o enfermeiro-líder na linha de frente contra o novo Coronavírus. J. nurs. health. 2020;10(n.esp.):e20104016
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/18993/11578
ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO
Inteligência emocional: habilidade relacional para o enfermeiro-líder na linha de frente contra o novo Coronavírus
Emotional intelligence: relationship skill for the nurse-leader on the front line against the new Coronavirus
Inteligencia emocional: capacidad relacional para el enfermero-líder de primera línea contra el nuevo Coronavirus
Amestoy, Simone Coelho[1]
RESUMO
Objetivo: tecer reflexões acerca da inteligência emocional enquanto habilidade relacional para o enfermeiro-líder na linha de frente contra o novo Coronavírus. Método: ensaio teórico-reflexivo, construído a partir da literatura produzida sobre o novo Coronavírus, sua repercussão para os profissionais da saúde e domínio da inteligência emocional pelo enfermeiro-líder para enfrentar as adversidades impostas pelo cenário turbulento. Resultados: a pandemia tem gerado desgaste emocional nos profissionais de saúde que atuam junto aos pacientes contaminados com a doença. Como estratégia de enfrentamento, destaca-se o conhecimento sobre a inteligência emocional, que consiste na habilidade de manejar as emoções intrapessoais e interpessoais, mediante a compreensão dos cincos pilares: autoconsciência, autogestão, automotivação, empatia e gerenciamento de relacionamentos. Conclusões: a gestão das emoções pelo enfermeiro-líder poderá colaborar com o enfrentamento do desgaste emocional, a partir do cultivo de pensamentos positivos, prática de meditação, cuidados com a saúde física e distanciamento de informações, excessivas, sobre a pandemia.
Descritores: Enfermagem; Liderança; Inteligência emocional; Coronavírus
ABSTRACT
Objective: to make reflections about emotional intelligence as relationship skills for the nurse-leader on the front line against the new Coronavirus. Method: theoretical-reflective essay, built from the literature produced on the new Coronavirus, its repercussion for health professionals and the relevance of the domain of emotional intelligence by the nurse leader to face the adversities imposed by the turbulent scenario. Results: the pandemic has generated emotional distress in health professionals who work with patients infected with the disease. As a coping strategy, knowledge about emotional intelligence stands out, which consists of the ability to handle intrapersonal and interpersonal emotions, by understanding the five pillars: self-awareness, self-management, self-motivation, empathy and relationship management.Conclusions: the management of emotions by the nurse-leader can collaborate with coping with emotional exhaustion, based on the cultivation of positive thoughts, meditation practice, care with physical health and distance from excessive information about the pandemic.
Descriptors: Nursing; Leadership; Emotional intelligence; Coronavirus
RESUMEN
Objetivo: hacer reflexiones sobre inteligencia emocional como capacidad relacional para el enfermero-líder en la primera línea contra el nuevo Coronavirus. Método: ensayo teórico-reflexivo, construido a partir de la literatura sobre el Coronavirus, su repercusión para profesionales de salud y relevancia del dominio de la inteligencia emocional por parte del enfermera-líder para enfrentar adversidades impuestas por el escenario turbulento. Resultados: la pandemia ha generado angustia emocional en profesionales que trabajan con pacientes con la enfermedad. Como estrategia de afrontamiento, se destaca conocimiento sobre la inteligencia emocional, que consiste en la capacidad de manejar emociones intrapersonales e interpersonales, mediante la comprensión de cinco pilares: autoconciencia, autogestión, automotivación, empatía y gestión de relaciones. Conclusiones: el manejo de las emociones por parte del enfermero-líder puede colaborar para hacer frente al agotamiento emocional, basado em el cultivo de pensamientos positivos, práctica de meditación, cuidado con salud física y distancia de información, excesiva, sobre la pandemia.
Descriptores: Enfermería; Liderazgo; Inteligencia emocional; Coronavirus
INTRODUÇÃO
A pandemia causada pelo novo Coronavírus (Síndrome Respiratória Aguda Grave Coronavírus-2, SARS-CoV-2) é considerada uma emergência de saúde pública.1 O vírus gerou um impacto direto na saúde física de milhões de pessoas e deve representar uma ameaça à saúde mental de imensa magnitude em todo o mundo.2 O Brasil, assim como os demais países do mundo, também está sendo acometido por esta doença que possui alto índice de transmissão por gotículas e contato direito. Uma pessoa contaminada pode transmitir o vírus para duas ou três pessoas, preferencialmente em locais confinados, com pouca ventilação e no ambiente hospitalar.3 A maioria dos indivíduos apresentam sintomas com gravidade leve a moderada. Todavia, pacientes gravemente enfermos necessitam de cuidados intensivos e ventilação mecânica para tratamento da insuficiência respiratória hipoxêmica, cuja mortalidade é elevada.4
Para enfrentar esta crise, o país precisou investir na criação de hospitais de campanha, ampliação de leitos em unidades de terapia intensiva, aquisição de ventiladores mecânicos, contratação de profissionais da saúde, capacitações para manejar a doença e suas complicações, além da antecipação da formatura de estudantes da área da saúde para atuaram nas ações de combate ao Coronavírus. No entanto, os números de contágios e a mortalidade nacional são alarmantes, tendo em vista que existem drásticas lacunas na gestão em saúde no Brasil. Os descompassos políticos estão interferindo de forma destrutiva na condução e controle da pandemia, que avança em ritmo frenético, causando ainda mais mortes e sofrimento.
Quanto aos profissionais de saúde que atuam na linha de frente, além do alto risco de contaminação a que estão expostos, as consequências da Coronavirus Disease (COVID-19) estão afetando a saúde psicológica. O bem-estar geral e a resiliência são aspectos fundamentais para a manutenção de respostas positivas no gerenciamento do cuidado e evolução do paciente.1
Em um ambiente de insegurança e medo, em virtude do alto risco de contágio da doença, é notória a necessidade da aplicação da inteligência emocional, com vistas a amparar a ações dos enfermeiros-líderes, no que concerne o cuidado direito aos pacientes infectados. Ademais, outras preocupações interferem no trabalho frente a nova doença, englobando a escassez de Equipamento de Proteção Individual (EPI), aumento do número de profissionais da saúde contaminados pelo vírus, receio de transformar-se em um vetor para seus familiares, bem como imprevisibilidade do surgimento de uma vacina ou medicação eficaz para o tratamento, validadas mediante estudos científicos.
O desgaste psicológico vivenciado diariamente pelos profissionais da saúde, sinaliza para a relevância do gerenciamento das emoções. A inteligência emocional caracteriza-se como uma habilidade relacional em que o indivíduo é capaz de entender seus próprios sentimentos e os sentimentos dos outros, além de fomentar a motivação interna, gerenciar emoções pessoais e os relacionamentos grupais.5
O desenvolvimento da inteligência emocional pelos enfermeiros-líderes poderá contribuir com o manejo do estresse ocasionado pelas circunstâncias que permeiam a pandemia. Estudo de revisão6 indica relação positiva entre a inteligência emocional e o exercício da liderança, por melhorar o desempenho dos enfermeiros e equipe, contribuindo de modo significativo para o gerenciamento eficaz em saúde. Outra investigação que analisa a atuação de enfermeiros em cuidados perioperatórios, destaca que um escore elevado de inteligência emocional tem sido associado ao maior desempenho no ambiente de trabalho, proporcionando satisfação, menor rotatividade, menos desgaste.7 Discussão a partir dos conceitos de inteligência emocional e liderança também é evidenciada na educação e prática de enfermagem obstetrícia.8 Diversas áreas da enfermagem tem investido esforços em compreender esta habilidade relacional, ainda mais no enfrentamento da pandemia, que requer do enfermeiro a capacidade de estabelecer relações interpessoais empáticas com os pacientes e familiares infectados pela doença, além dos profissionais da saúde e que estão atuando diretamente na assistência.
Diante do desgaste físico e emocional causado aos enfermeiros-líderes que atuam na linha de frente da COVID-19, o estudo em questão sugere investimentos no desenvolvimento da inteligência emocional, com o escopo de minimizar as consequências emocionais da exposição a esta situação calamitosa, que tem gerado impactos incalculáveis nos profissionais de saúde e na população. Frente ao exposto, objetiva-se tecer reflexões acerca da inteligência emocional enquanto habilidade relacional para o enfermeiro-líder na linha de frente contra o novo Coronavírus.
MÉTODO
Trata-se de um ensaio teórico-reflexivo, construído a partir da literatura produzida sobre a pandemia causada pelo COVID-19, bem como sua repercussão na saúde dos profissionais que atuam na linha de frente e a relevância do domínio da inteligência emocional pelo enfermeiro-líder para enfrentar as adversidades impostas pelo cenário turbulento.
O ensaio caracteriza-se pela sua natureza reflexiva e interpretativa, diferente da forma classificatória da ciência. Sua fortaleza não está relacionada ao rigor metodológico, mas na capacidade reflexiva para entender a realidade.9 Neste sentido, colabora de forma construtiva para o entendimento de assuntos emergentes e em expansão, como é o caso da COVID-19. Cabe mencionar que as reflexões emergidas foram organizadas a partir de eixos condutores acerca da temática, oriundos de interpretações da literatura pertinente, acrescido das impressões das autoras.
Com vistas a conduzir o estudo, no mês de maio de 2020, realizou-se uma busca por produções a partir da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), mediante os descritores “inteligência emocional”, “liderança”, “enfermagem e “coronavírus” e na Medline via Pubmed por meio dos termos Medical Subject Headings (MeSH) “emotional intelligence”, “nursing”, “leadership” e “coronavirus”. Quanto à estratégia de combinação, utilizou-se o operador booleano “AND”. Convém informar que não foi estipulado período de tempo de publicação das produções, tendo em vista que se trata de um assunto atual. Também foi selecionada para fundamentar o estudo à obra “Inteligência emocional: a teoria revolucionária que define o que é ser inteligente”,5 sendo de um autor de referência mundial em inteligência emocional.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As informações abordadas foram organizadas em dois temas, de modo a facilitar a compreensão dos assuntos em voga, sendo denominados: Inteligência emocional e a atuação do enfermeiro-líder no combate à COVID-19 e Repercussões da pandemia nas emoções dos profissionais de enfermagem.
Inteligência emocional e a atuação do enfermeiro-líder no combate à COVID-19
A inteligência emocional é essencial para alavancar uma liderança participativa nos serviços de saúde. Os indivíduos possuem a capacidade de vivenciar múltiplas emoções ao longo da vida, porém alguns não são capazes de entender e gerenciar as emoções, o que sinaliza para o aprimoramento de habilidades sociais e emocionais.6
A compreensão da inteligência emocional está relacionada ao conhecimento dos pilares que a constituem: autoconsciência, autogestão, automotivação, empatia e gerenciamento de relacionamentos.5 Tal habilidade está associada às relações intrapessoais, correspondentes à pessoa e interpessoais, que são estabelecidas com o grupo.
A autoconsciência representa a base da inteligência emocional, na qual o indivíduo é capaz de afastar um estado de espírito negativo. Não se trata de reagir com exageros, mas sim um modo neutro, que mantém a autorreflexividade mesmo em meio a emoções turbulentas.5 Os enfermeiros-líderes que investem na autoconsciência buscam reconhecer suas fortalezas, bem como aspectos a serem melhorados. No cenário da pandemia, cultivar pensamentos positivos e otimismo, poderá minimizar sentimentos negativos que possam gerar medo, angústia e até mesmo depressão. Sugere-se o distanciamento de informações, excessivas, a chamada infotoxicação, que abordem notícias trágicas. Também é importante determinar a frequência e a qualidade dos canais de comunicação.
A autogestão consiste na capacidade de manter o autocontrole, de suportar o turbilhão emocional, exercitar a temperança e contenção de excessos. O foco está na busca pelo equilíbrio e não na supressão das emoções, tendo em vista que cada sentimento possui seu valor e significado. Contudo, quando as emoções são sufocadas, podem causar embotamento e frieza, porém ao extrapolarem do controle, de modo extremado, tornam-se patológicas, conforme acontece na depressão, na ansiedade, na raiva demente.5 Possuir controle das próprias emoções contribuiu para que o enfermeiro-líder desenvolva a capacidade de adaptação, seja receptivo à mudanças e almejem inovações no trabalho. Com vistas a potencializar este pilar na pandemia, sinaliza-se para o uso de estratégias como: realizar o registro sistemático dos sentimentos e buscar compreender a relação destes com o momento atual. Além disso, cuidados com a saúde física e a prática de meditação podem ser ferramentas capazes de auxiliar no alívio do estresse e da ansiedade, por contribuírem no autocontrole e na gestão das emoções.
O terceiro pilar é a automotivação que está relacionada em utilizar a energia gerada pelas emoções para o alcance de objetivos e metas pessoais, bem como auxiliar para que a pessoa se torne mais eficiente com os percalços vivenciados no decurso da vida. Pessoas motivadas e esperançosas dificilmente apresentam depressão, ansiedade e distúrbios emocionais.5 Os enfermeiros-líderes precisam nutrir sua motivação interna e ter claro seu propósito de vida. Manter-se automotivado em meio a pandemia, consiste em um dos principais desafios para o enfermeiro que atua na linha de frente da COVID-19. Contudo, buscar a superação na crise, a partir da manutenção do foco e da atenção, ter claro seus objetivos e o que deseja alcançar tanto no aspecto pessoal como profissional, podem ser uma possibilidade. Investir no seu próprio bem-estar, dos pacientes e dos colegas de trabalho pode gerar uma rede de emoções sadias, impulsionando a motivação e a satisfação por estar prestando à sociedade um serviço essencial e de cunho humanitário.
A empatia configura o quatro pilar da inteligência emocional e é apoiada no autoconhecimento. Desta forma, quanto mais consciente as pessoas estiverem das próprias emoções, mais facilmente poderão entender os sentimentos alheios, ou seja, é a capacidade de saber como o outro se sente. Raramente, as emoções são expressas na forma de palavras, por este motivo, para que se possa compreender os sentimentos das outras pessoas é salutar investir na interpretação de canais não-verbais, como analisar o tom da voz, gestos, expressões faciais e corporais.5 Os líderes que valorizam a empatia, possuem facilidade em estabelecer conexões emocionais com os membros da equipe e costumam construir relações pautadas em laços de confiança. Exercitar a empatia é imprescindível para os enfermeiros-líderes que atuam diretamente com os pacientes contaminados pelo novo Coronavírus. O isolamento requerido, os sentimentos gerados a partir do medo da evolução da doença, são gatilhos para que o profissional busque se colocar, verdadeiramente, no lugar do outro e entender da melhor forma possível as situações vivenciadas no ambiente de trabalho.
O gerenciamento de relacionamentos, enquanto quinto pilar, relaciona-se à capacidade de gerir a emoção de outras pessoas, o que requer domínio das habilidades anteriores. Retrata a inteligência social, mediante a facilidade de estabelecer ligações com outras pessoas, de interpretar reações e sentimentos, além de conduzir, organizar e controlar as disputas estabelecidas em qualquer atividade humana. Destarte, são pessoas com capacidade de liderança, que expressam o sentimento coletivo e articulam-se, com o escopo de orientar o grupo para o investir esforços e atingir objetivos.5 Habilidades sociais são fundamentais para a atuação do enfermeiro-líder, pois convergem para comunicação horizontalizada, tomada de decisões e processos de negociação mais assertivos e eficazes. Saber administrar os relacionamentos interpessoais consiste em uma competência imprescindível, mais ainda em uma pandemia, tomando proporções imensuráveis, tendo em vista que cuidar de pessoas é a base da profissão e sem esta habilidade, se tornará prejudicada a atuação profissional.
Quanto à capacidade dos enfermeiros de gerir emoções, esta necessidade se faz mais presente, em virtude da natureza específica da profissão, ou seja, o cuidado as pessoas.6 Existe valor terapêutico estabelecido na relação entre enfermeiro empático e o paciente, capaz de se conectar, de ouvir e de se fazer ouvir. Esta conduta demonstra uma assistência que prioriza o relacionamento.5
Para desenvolvê-la o enfermeiro-líder pode investir na autorreflexão, a partir da análise interna, reconhecer suas potencialidades e limitações. Além disso, os serviços de saúde poderiam oferecer programas formais ou capacitações que se concentrassem no desenvolvimento dos pilares que constituem a inteligência emocional.
O conhecimento sobre a inteligência emocional contribui de modo substancial para ampliar a capacidade de influenciar e de se relacionar com os pacientes, familiares e profissionais de saúde e enfermagem. Em meio a pandemia, investir em estratégias que promovam o autocuidado emocional, poderão levar a um melhor enfrentamento de situações de crise, que geram estresse e sentimentos negativos, de frustração, além de ansiedade e depressão.
Repercussões da pandemia nas emoções dos profissionais de enfermagem
Com a instauração da crise mundial na saúde causada pela COVID-19, diversos desafios a serem respondidos estão em pauta nas pesquisas de enfermagem, relacionados principalmente ao acesso restrito aos serviços de saúde, carência de profissionais de saúde e sofrimento moral vivenciado por eles.10
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) divulgou que mais de 10 mil enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem foram afastados de suas atividades devido à COVID-19. No início do mês maio de 2020, foram registrados 88 óbitos que representam mais que o dobro do número absoluto de mortes registrados entre profissionais de Enfermagem na Itália, considerada o primeiro epicentro da doença no Ocidente.11
Estudo12 sinaliza que os profissionais de saúde que estão atuando na assistência direta aos pacientes com o novo Coronavírus, apresentam exaustão física e mental, dificuldades para tomar decisões, ansiedade em virtude do sofrimento pela perda de pacientes e colegas, bem como alto risco de contaminação e de transmissão aos familiares. A pandemia também afetou, de modo significativo, a qualidade do sono da equipe médica e de enfermagem, causando insônia e estresse, como foi o caso dos profissionais de saúde de Wuhan, província da China, onde a doença teve início e rapidamente se espalhou para o mundo.13
Muitas vezes, existe certa dificuldade destes trabalhadores reconhecerem que estão estressados, diante do forte senso de comprometimento pelo seu trabalho, falta de tempo ou medo de pedir ajuda. Tais fatores podem interferir na procura por apoio para enfrentar o estresse psicológico. Ressalta-se a importância de monitorar e avaliar suas emoções e bem-estar.1 Além disso, alerta-se para a necessidade de incluir nas pautas de discussão dos Estados e instituições, a importância do cuidado a quem cuida, por compreender que o cuidado de Enfermagem não pode ser unilateral, reforçando da profissão para o país.14
Outro aspecto que deve ser considerado e que gera preocupações nos profissionais da saúde é a escassez de EPIs. Devido ao alto risco de exposição ao vírus, a utilização de máscaras, óculos e aventais são vitais para conter o avanço da doença e proteger os trabalhadores.15 É imperativo destacar que a falta desses recursos pode gerar diversos sentimentos como insegurança, ansiedade, medo da autocontaminação, de contaminar colegas e familiares.
Preocupado com esta situação alarmante, o COFEN estipulou à Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Mental para dar suporte aos profissionais de enfermagem. Criou-se então, um projeto de Atendimento de Enfermagem em Saúde Mental aos profissionais de enfermagem que atuam na linha de frente da pandemia. Estudo16 revela que os principais sentimentos descritos pelos profissionais da saúde atendidos pelo projeto estavam relacionados à ansiedade pela falta de EPIs, pressão das chefias e noticiários; estresse pelo aumento dos atendimentos e elevada mortalidade; medo do risco de se contaminar e contaminar a família; ambivalência, sendo reconhecidos pela população também são discriminados e evitados; depressão gerada pela solidão, morte dos colegas e exaustão ou esgotamento emocional.
Resultado semelhante foi sinalizado em outra investigação,17 na qual além do medo e apreensão dos enfermeiros referentes ao risco de exposição ao vírus e a preocupação do contágio dos familiares, os profissionais ainda precisam lidar com a possibilidade do colapso do sistema de saúde no país, haja vista o adoecimento por outras causas além da COVID-19, bem como preocupações de cunho econômico e trabalhistas resultantes do distanciamento social.
Com a finalidade de desenvolver a inteligência emocional, investigação sinaliza para a necessidade de implementar programas de aprendizagem social e emocional. Tais recursos de aprendizagem, poderão auxiliar os enfermeiros na aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes para entender e gerenciar emoções, alcançar objetivos construtivos.6 Destaca-se que tanto o apoio institucional quanto as estratégias de autocuidado desempenham papel imprescindível na preservação do estado emocional e do bem-estar.1
Auxiliar as pessoas a lidar melhor com sentimentos incômodos como a raiva, ansiedade, depressão, pessimismo e sensação de solidão é uma forma de prevenir doenças.5 Em meio a pandemia, cuidar do profissional de saúde, nunca foi algo tão premente como agora. Investir no desenvolvimento da inteligência emocional é primordial para que enfermeiro-líder possa fomentar para o cuidado si e contribuir de forma empática com o cuidado ao outro, sendo este paciente ou membro da equipe de enfermagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo possibilitou tecer reflexões acerca da inteligência emocional enquanto habilidade relacional para o enfermeiro-líder na linha de frente contra o novo Coronavírus. Para gerenciar a crise em meio as adversidades que compõem este cenário turbulento e instável de falta de leitos, de insumos e de equipamentos de proteção individual, somados a alta carga horária de trabalho, ao risco de contaminação e de levar a doença para o ambiente doméstico, faz-se mister o suporte emocional aos profissionais de saúde, fornecido tanto pelos serviços de saúde como por voluntários especializados.
A inteligência emocional pode contribuir de forma significativa para o enfermeiro-líder em meio a pandemia, mediante o desenvolvimento da autoconsciência, autogestão, automotivação, empatia e gerenciamento de relacionamentos. As reflexões tecidas apontam para investimentos no cultivo de pensamentos positivos, prática de meditação, cuidados com a saúde física e distanciamento de informações, excessivas, sobre a pandemia. Além de investimentos no próprio bem-estar, dos pacientes e dos colegas de trabalho, contribuindo para motivação e a satisfação no âmbito laboral. Também é imprescindível se colocar no lugar do outro e nutrir relacionamentos interpessoais construtivos, fundamentais para a prática do cuidado.
A gestão das emoções pelo enfermeiro-líder, por meio da melhor compreensão sobre os pilares que compõem a inteligência emocional e seus benefícios, poderá servir como uma ferramenta útil, colaborando com o enfrentamento do desgaste emocional e do sofrimento vivenciado face a pandemia do novo Coronavírus.
As limitações do estudo estão relacionadas à carência de investigações que abordem o tema, em virtude de ser um assunto ainda pouco explorado na enfermagem. Desta forma, recomenda-se a aprofundamento, mediante revisões integrativas ou de escopo, com o intuito de elucidar a temática em voga.
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Data de submissão: 15/06/2020
Data de aceite: 11/07/2020
[1] Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Pernambuco (PE), Brasil. E-mail: simoneamestoy@hotmail.com http://orcid.org/0000-0001-8310-2157
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