DA FILOSOFIA DA NATUREZA À FILOSOFIA MORAL: ANÁLISE DE UMA ÉTICA ANIMAL EM HANS JONAS

Anor Sganzerla, Bruno Henrique do Rosario Xavier

Resumo


As últimas décadas têm testemunhado uma profusão de teorias filosóficas que buscam reconhecer a moralidade de uma categoria tradicionalmente compreendida como neutra: os animais. Destituída de qualquer valor, a existência não-humana senciente foi deixada de lado por grandes nomes da ética ocidental (de Aristóteles a Kant), cujas teorias colocava-os, muitas vezes, sob o mesmo status de mera matéria destituída de vida. Contudo, desde o século XVIII, sobretudo na Inglaterra, os animais passaram a fazer parte do escopo compreendido por um sem-número de teorias éticas comprometidas com o desafio de lidar com a problemática relação imposta entre humanos e animais. Partindo de um postulado comum – um agente é moralmente relevante se dispõe do maquinário biológico necessário para a produção de sensações agradáveis ou desagradáveis – tais percepções falham em reconhecer a existência de outros seres carentes de proteção moral: as árvores, plantas e uma infinidade de organismos com sistema nervoso central particularmente rudimentar para entrar dentro do cálculo utilitarista, cuja existência encontra-se igualmente ameaçada pelo poder de ação humana. Tendo esse desafio como norte, o presente artigo busca, a partir da teoria ética de Hans Jonas voltada aos animais, uma alternativa de proteção da vida extra-humana e da biosfera. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter analítico, cuja fonte principal circula, sobretudo, em torno de duas grandes obras do filósofo: O Princípio Vida e O Princípio Responsabilidade. Assim sendo, pergunta-se:  em que medida a teoria da responsabilidade jonasiana oferece fundamentos para pensar uma teoria ética para os animais não-humanos, ao mesmo tempo que não exclui da esfera moral outros seres vivos? Tal problemática certamente precisa operar sob a perspectiva de uma filosofia da natureza, para então estabelecer um alicerce teórico sobre o qual se possa construir uma ética animal. Para tanto, o texto divide-se em três seções: a) primeiro analisa-se a pertença humana no reino natural, possibilitada, segundo Jonas, graças ao sucesso do darwinismo enquanto narrativa descritiva da realidade biológica; b) passa-se então para uma análise da ontologia da natureza de Jonas compreendendo desde a mais primitiva existência unicelular ao mais desenvolvido degrau da vida animal; c) para então desembocar em uma teoria ética da responsabilidade que compreenda tanto a existência humana, quanto a não-humana. Em seu degrau ascendente de valor, a vida reivindica uma responsabilidade em determinados níveis, tendo a existência animal, com o dramático aparecimento das sensações, mobilidade, medo e desejo, uma reivindicação mais ampla em relação aos modos mais primitivos de manifestação da vida.


Palavras-chave


Hans Jonas; ética animal; ontologia; ética.

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