A IDENTIFICAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM DEPOIMENTOS SOBRE ADOÇÃO: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA CRÍTICA

Layane Campos Soares, Maria Aparecida Resende Ottoni

Resumo


A prática social de adoção pode ser considerada uma questão bastante desafiadora no Brasil. Ao se analisar os dados disponibilizados pelo Conselho Nacional de Justiça no Diagnóstico Sobre o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (BRASIL, 2020), percebe-se que o número de pretendentes à adoção é seis vezes maior em relação ao número de crianças e adolescentes que aguardam colocação em família substituta. Isso se dá, em parte, em função da discrepância existente entre o perfil de filho/a idealizado por quem deseja adotar e o perfil de crianças e adolescentes disponíveis à adoção. Em virtude disso, é comum encontrarmos práticas que incentivam a adoção tardia como, por exemplo, o projeto Quero uma família, desenvolvido pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que divulgou diferentes depoimentos sobre adoção, com o intuito de incentivar a adoção tardia. Levando em consideração esse contexto e a relação dialética que se estabelece entre linguagem e sociedade, decidiu-se realizar uma análise discursiva crítica desses depoimentos com o objetivo de compreender como os/as filhos/as são identificados/as pelos/as adotantes. Desse modo, este estudo baseou-se na Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 1989, 2001, 2003, 2010), no Sistema da Avaliatividade (MARTIN; WHITE, 2005) e na Linguística de Corpus (BERBER SARDINHA, 2009). Os resultados principais revelam que os/as adotantes identificam seus/suas filhos/as por meio de escolhas lexicogramaticais que denotam avaliações de Afeto, com prevalência de emoções ligadas ao grupo da felicidade, o que pode ser um incentivo ao processo de adoção tardia.


Palavras-chave


Análise de discurso crítica; sistema da avaliatividade; linguística de corpus; prática social de adoção; depoimentos.

Texto completo:

PDF

Referências


AMIGO. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2021. Disponível em: https://www.dicio.com.br/amigo/. Acesso em: 09 de mar. 2021.

BERBER SARDINHA, T. B. Linguística de Corpus. Barueri, SP: Manole, 2004.

BERBER SARDINA, T. B. Pesquisa em Linguística de Corpus com WordSmith Tools. Campinas: Mercado de Letras, 2009.

BITTENCOURT, S. A nova lei de adoção: do abandono à garantia do direito à convivência familiar e comunitária. Lumen Juris Editora: Rio de Janeiro, 2013.

BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 22 de mai. 2021.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Diagnóstico sobre o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento/ Conselho Nacional de Justiça - Brasília: CNJ, 2020.

CASTELLS, M. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

CHOULIARAKI, L; FAIRCLOUGH, N. Discourse in Late Modernity: Rethinking Critical Discourse Analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1999.

COSTA, R. Q. F. As representações sociais transmitidas nas histórias em quadrinhos de super-heróis. Revista de Psicologia da UNESP 9(2), 2010.

FAIRCLOUGH, N. Language and Power. Londres e Nova York: Longman, 1989.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e Mudança Social. Trad. I. Magalhães et al. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 2001.

FAIRCLOUGH, N. Analysing Discourse: textual analysis for social research. Londres e Nova York: Routledge, 2003.

FAIRCLOUGH, N. Critical discourse analysis: the critical study of language. 2 ed. New York: Routledge, 2010.

FUZER, C; CABRAL, S. R. S. 2014. Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Campinas: Mercado de Letras.

GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: Ed. da UNESP, 1991.

HALL, S. Quem precisa de identidade? In: SILVA, T. T (org.). Identidade de diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

HALLIDAY, M.A.K. Introduction to functional grammar. 2 ed. London: Edward Arnold, 1994.

HALLIDAY, M. A. K; MATTHIESSEN, C. M. I. M. An introduction to Functional Grammar. 4rd edition, London: Routledge, 2014.

HOUAISS, A; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

LIMA, M. C. Discursos sobre gênero e identidade. In: OTTONI, M. A. R; LIMA, M. C (org.). Discursos, identidades e letramentos: abordagens da análise de discurso crítica. São Paulo: Cortez, 2014.

LISBOA, R. S. Manual de Direito Civil: direito de família e sucessões. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

MARTIN, J. R; ROSE, D. Working whith discourse: meaning beyond the clause. Open Linguistics Series. Londres e New York: Continuum, 2003.

MARTIN, J. R; WHITE, P. R. R. The language of evaluation: appraisal in English. London: Palgrave Macmillan, 2005.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO DE JANEIRO. Quero uma família. Disponível em: http://queroumafamilia.mprj.mp.br/apresentacao. Acesso em: 09 de mar. 2021.

MOITA LOPES, L. P. Identidades Fragmentadas. A construção discursiva de raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002.

MONTEIRO, W. B; SILVA, R. B. T. Curso de Direito Civil. 40 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

OTTONI, M. A. R. As representações identitárias do gênero humor sexista. In: OTTONI, M. A. R; LIMA, M. C (org.). Discursos, identidades e letramentos: abordagens da análise de discurso crítica. São Paulo: Cortez, 2014.

PAIVA, L. D. Adoção: significados e possibilidades. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

SCOTT, M. WordSmith Tools version 7. Stroud: Lexical Analysis Software, 2016.

VIAN JR, O. O Sistema de Avaliatividade e a linguagem da avaliação. In: VIAN JR, O; SOUZA, A. A; ALMEIDA, F. S. D. P. A linguagem da avaliação em língua portuguesa. Estudos sistêmico-funcionais com base o sistema da avaliatividade. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.

WODAK, R; MEYER, M. (org.). Methods of critical discourse analysis. Londres: Sage, 2009.

WHITE, P. R. R. Valoração: a linguagem da avaliação e da perspectiva. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, v. 4, n. esp, pp. 178-205, 2004.




DOI: https://doi.org/10.15210/cdl.v0i41.21337



Caderno de Letras integra a rede LATINOAMERICANA - Asociación de Revistas Literarias y Culturales 

__________________________________________________________________ 

A Caderno de Letras está indexada nas seguintes bases: