O que restou depois da grande onda: imagem e linguagem como sintomas em "Contact" e "Repetition Window", de Mé

Helano Jader Cavalcante Ribeiro, Lóren Cristine Ferreira Cuadros

Resumo


Com o intuito de abordar a instabilidade do mundo em que vivemos, o trio de artistas japoneses “” criou uma série de obras que desafiam a forma como o público percebe a fisicalidade de tudo a seu redor. A instalação intitulada “Contact” assume o formato de ondas do mar, evidenciando a preocupação com o futuro dos oceanos ao mesmo tempo em que remete à vulnerabilidade do homem diante das forças da natureza e à destruição associada ao terremoto e ao tsunami que atingiram o Japão em 2011. Por sua vez, “Repetition Window” consiste em uma instalação interativa em que o observador é convidado a visitar os arredores devastados da cidade de Ishinomaki e reconstruí-la mentalmente, imaginando como era antes do desastre. Partindo da análise comparativa das duas obras em questão, o presente artigo tenciona abordar o retorno sintomal da imagem relacionada à experiência traumática – que também é uma experiência da linguagem – como forma de resistência ao esquecimento em contraponto com as estratégias de reconstrução e foco absoluto no porvir instauradas pelo governo japonês, que têm exercido impacto negativo nas vidas de vários sobreviventes da tragédia.


Palavras-chave


Imagem; linguagem; Mé; memória; sintoma.

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DOI: https://doi.org/10.15210/cdl.v0i38.20359



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