CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE PINTURA DE CAVALETE: UM EXERCÍCIO NA CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO PELOTENSE.

Jacqueline da Silva Basilio, Andréa Lacerda Bachettini

Resumo


A pintura ao longo da história das civilizações utilizou diversos suportes como por exemplo rocha, madeira, plásticos, tela, papel, muros e até o próprio corpo humano. As técnicas de pintura, bem como os suportes que as sustentam também possuem variações, tornando-se assim essencial para a área da conservação e restauração a investigação das propriedades desses suportes, dos materiais e técnicas, fundamentados nas metodologias de CALVO (1997), MAYER (2016) e SCICOLONE (2016). Esse estudo torna-se importante não apenas por entender seus processos de criação, mas também para identificar uma possível datação ou estilo do autor além de, segundo TEIXEIRA et al (2012), conservar o patrimônio histórico para a posteridade. Portanto, a pintura sobre tela é o foco deste trabalho, no qual veremos através da restauração de uma obra atribuída ao artista Guilherme Litran, um pouco das técnicas, materiais e mecanismos auxiliadores considerados em sua execução por conservadores e restauradores, conciliando as análises teóricas e procedimentos práticos vistos na disciplina de Conservação e Restauração de Pinturas. O quadro, de propriedade da Prefeitura Municipal de Pelotas, encontra-se alocado nas dependências do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFPel. A obra chegou ao laboratório em meados de 2015, em um estado delicado de conservação, principalmente pela fragilidade da camada pictórica (FIGURA 1). Os esforços realizados na época foram direcionados no sentido de efetuar uma consolidação para evitar perdas maiores, antes de qualquer procedimento. Ainda em 2015 e 2016 foram realizados tratamentos de retirada do bastidor, planificação da tela, reentelamento (reforço realizado no anverso com tecido novo) e tratamento de limpeza. A partir de 2017 os autores deste trabalho assumiram o trabalho de restauro e retomaram o processo de limpeza e remoção do adesivo BEVA 371, utilizado na consolidação capa pictórica, levando em consideração os relatórios deixados nos dois anos anteriores e o estado no qual a obra se encontrava. Dessa forma, foi elaborado um plano de novos testes de solubilidade para remoção do adesivo, bem como posterior remoção do verniz oxidado e da camada anterior de repintura (identificada graças a exame de luz ultravioleta em câmara escura). Após o término das remoções, foi realizada a consolidação das lacunas do suporte original com massa de nivelamento. Após o preenchimento das lacunas, iniciou-se um dos processos mais complexos na restauração de uma obra: a reintegração pictórica. Seguindo as metodologias de CALVO (2006), e sob orientação da prof. Dra. Andrea L. Bachettini, iniciou-se a reintegração da cor nas áreas preenchidas com massa de nivelamento (nos pontos em branco na figura 1), com tinta aquarela específica para conservação e restauração de pinturas. Após a completa reintegração cromática foi aplicada uma camada de verniz damar, mantendo o brilho da pintura a óleo original e garantindo sua conservação futura. O estudo do tratamento da camada pictórica levou em consideração os relatórios anteriores (2016, 2017) e o estado no qual a obra se encontrava. Após a finalização da reintegração cromática, Para conservar a obra e assim manter o patrimônio da prefeitura de Pelotas, bem como parte de sua história, propõem-se algumas medidas para conservação do suporte, tais como manter ao abrigo de luz natural. Uma vez que a luz natural é um fator de deterioração por fotoxidação de pigmentos e considerando que a pintura já apresentava desbotamento, bem como o uso de tinta aquarela na reintegração cromática, é primordial o abrigo da luz natural visando proteger (no caso da reintegração) e desacelerar processos de perda de cor por desbotamento e manchas. Segundo TEIXEIRA (2012) indica-se evitar ambientes com alto índice de umidade relativa do ar, bem como oscilações da mesma. Considerando que tanto a moldura quanto a tela e a massa de preenchimento são materiais altamente higroscópicos (a massa solúvel em água inclusive), a fim de evitar reações, desprendimentos, alterações e manchas, é importante manter a obra em ambiente com umidade relativa controlada, com ventilação adequada. Por fim, pede-se realizar limpezas regulares, a fim de evitar o aparecimento de microorganismos e insetos, deposição de pó, fuligem e demais poluentes, recomenda-se limpeza regulares e constantes com uso de uma trincha de cerdas macias. A prática se estendendo além da teoria é de extrema importância para a formação do profissional, principalmente no cuidado com patrimônio cultural. A pratica supervisionada desse processo de restauração garantiu não apenas o aprendizado de futuros profissionais como contribuiu para a manutenção da memória social através da salvaguarda de seus bens culturais. Em ambientes nem sempre propícios para guarda de obras, o tempo de vida de um objeto se estenderá à medida que o homem mantenha as condições ambientais favoráveis e estáveis para tal.

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