TERRITORIALIDADE NEGRA NO ESPAÇO TRANSNACIONAL ENTRE BRASIL E GUIANA FRANCESA: O CASO DA COMUNIDADE QUILOMBOLA KULUMBU DO PATUAZINHO (1990 A 2021)
Resumo
As fronteiras entre o Brasil e a Guiana Francesa, especificamente no município de Oiapoque, no estado do Amapá, constituem-se em espaços de diversidade sociocultural. No entanto, ainda são escassos os estudos sobre formações de comunidades negras ou quilombolas. Neste artigo, procuramos compreender o processo de formação da comunidade quilombola Kulumbu do Patuazinho e suas relações com o território ocupado. A pesquisa de campo foi pautada no uso de metodologias como história oral, observações etnográficas e caminhamentos pela comunidade. Nesse caso, os resultados da pesquisa permitiram compreender que a migração de um núcleo familiar negro vindo do estado do Maranhão na década de 1990 não pode ser explicada somente pela busca de melhores condições de vida, mas deve estar pautada nas relações com os guias espirituais de matriz africanaque impulsionaram a chegada a esse lugar, e as misturas com outros grupos que vivem na região e suas cosmologias.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFReferências
ANJOS, Rafael Sanzio Araújo. Apresentação. In: VIDEIRA, Piedade Lino. Batuques, folias e ladainhas.
A cultura do quilombo do Cria-ú em Macapá e sua educação. Fortaleza: Edições UFC,
ANJOS, Rafael Sanzio Araújo. Geografia, Cartografia e o Brasil africano: algumas representações.
Revista do Departamento de Geografia, São Paulo: USP, p. 332-350, 2014.
BÂ. Hampaté. A tradição viva. In: História geral da África I: Metodologia e pré-história da África /
editado por Joseph Ki‑Zerbo. 2.ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.
BONFIM, Marcela. Amazônia Negra. Revista Poiésis, Niterói: UFF, v. 22, n. 37, p. 209-220, 2021.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Reflexões sobre como fazer trabalho de campo. Sociedade e cultura,
v. 10, n. 1, p. 11-27, 2007.
CARDOSO, Francinete do Socorro Santos. Entre conflitos, negociações e representações: O contestado
Franco-Brasileiro a última década do século XIX. 230p. Belém: UNAMAZ/UFPA/NAEA,
ECOLOGY BRASIL. PCH Salto Cafesoca: Estudo do Componente Quilombola e Plano Básico Ambiental
Quilombola. Rio de Janeiro: Ecology Brasil, maio, 2018.
FERRETTI, Mundicarmo Maria Rocha. Maranhão Encantado: encantaria maranhense e outras histórias.
São Luís: UEMA, 2000.
FREITAS, Sônia Maria. História oral: possibilidades e procedimentos. São Paulo: Associação Editorial
Humanitas, 2006.
FUNES, Eurípedes. “Nasci nas matas nunca tive senhor”: história e memória dos mocambos do
Baixo Amazonas. Tese (Doutorado em História Social) -Programa em História Social, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1995.
FUNES, Eurípedes. Comunidades mocambeiras do Trombetas. In: Entre Águas Bravas e Mansas,
índios & quilombolas em Oriximiná. In: GRUPIONI, Denise Fajardo; ANDRADE, Lúcia M.M. de
(org.). São Paulo: Comissão Pró-Índio de São Paulo: Iepé, 2015.
GAMBIM JÚNIOR, Avelino; LIMA, Jelly Juliane Souza. Segundo relatório de campo do Projeto:
“Quilombolas do norte do Amapá (séc. XVIII-XXI): estudos históricos, etnográficos e arqueológicos”.
Segundo relatório de campo: Comunidade quilombola Kulumbu do Patuazinho.
Macapá, 2022.
GOMES, Flávio dos Santos. Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil.
a ed. São Paulo: Claro Enigma, 2015.
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: Ciência do homem, filosofia da cultura. 2 ed. 9 reimpressão.
São Paulo: Contexto, 2019.
LEITE, Ilka Boaventura. Os quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas. Textos e Debates,
no 7, p. 3-40, Florianópolis: NUER/UFSC, 2000.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2 ed. São Paulo: Companhias das Letras, 2020.
LIMA, Jelly Juliane Souza; GAMBIM JÚNIOR, Avelino. “Quilombolas do norte do Amapá (séc. XVIII-
-XXI): estudos históricos, etnográficos e arqueológicos”. Primeiro relatório de campo: comuLIMA
et al. Territorialidade negra no espaço transnacional entre Brasil e Guiana Francesa: o caso da comunidade quilombola Kulumbu do Patuazinho
(1990 a 2021).
CADERNOS DO LEPAARQ - VOLUME XIX - NÚMERO 38 - JULHO-DEZEMBRO/2022 188
nidade quilombola Kulumbu do Patuazinho. Macapá, 2020.
LIMA, Jelly Juliane Souza; GAMBIM JÚNIOR, Avelino. Relato de experiência: A prática da pesquisa
histórica e o uso de metodologias alternativas para o reconhecimento do território da Comunidade
Quilombola Kulumbu do Patuazinho na fronteira franco-brasileira. Kwanissa,
São Luís, v. 05, n. 12, p. 437-460, jan/jun, 2022.
LUNA, Verônica Xavier. Entre o Porteau e o Volante: africanos redesenhando a Vila de São José de
Macapá-1840-1856. João Pessoa: Editora Sal da Terra, 2011.
MARTINS, José de Sousa. Fronteira: A degradação do outro nos confins do humano. São Paulo:
HUCITE/USP, 1997.
MARIN, Rosa Acevedo; GOMES, Flávio dos Santos. Reconfigurações coloniais: tráfico de indígenas,
fugitivos e fronteiras no Grão-Pará e Guiana Francesa (séculos XVII e XVIII). Revista de história,
São Paulo: DH/FFLCH/ USP, n. 149, p. 69-107, 2003.
MARIN, Rosa Acevedo; CASTRO, Edna. No caminho de Pedras de Abacatal: experiência social de
grupos negros no Pará. Belém: NAEA/UFPA, 2ª.ed. 2004.
MATTOS, Hebe; ABREU, Martha & GURAN, Milton. Inventário dos lugares de memória do tráfico
atlântico de escravos e da história dos africanos escravizados no Brasil. Niterói: PPGH-UFF,
MEIHY, José Carlos Sebe Bom; HOLANDA, Fabiola. História oral: como fazer, como pensar. - 2.ed. 4ª
reimpressão. São Paulo: Editora Contexto, 2015.
O’DWYER, Eliane Cantarino (org.). Quilombos: identidade étnica e territorialidade. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2002.
OLIVEIRA, Jorge Eremites. O uso da arqueologia para o reconhecimento de territórios indígenas
e quilombolas no Brasil. In: MORALES, Walter Facundes; MOI, Flavia Prado. Tempos ancestrais.
São Paulo: Anablume Editora, 2012.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo. Brasília: Editora Paralelo 15/São Paulo:
Editora da UNESP,220p, 1998.
PACHECO, Agenor Sarraf. Cosmologias afroindígenas na Amazônia marajoara. Projeto História: Revista
do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, São Paulo: PUC-SP, v. 44, 2012.
PAZ, Adalberto Junior Ferreira. Free and unfree labor in the nineteenth-century Brazilian Amazon.
International Review of Social History, v. 62, n. S25, p. 23-43, 2017.
PESTANA, Marlon Borges; FONSECA, Éder Ribeiro; FUNK, Tanja Raquel. As quatro pedras de Xangô:
educação patrimonial dos quilombolas agroecológicos de São Lourenço do Sul, RS. Tessituras:
Revista de Antropologia e Arqueologia, v. 10, n. 1, p. 417-428, 2022.
PRICE, Richard. Liberdade, fronteiras e deuses: Saramacás no Oiapoque (c. 1900). In: CUNHA, Olívia
Maria Gomes; DOS SANTOS GOMES, Flávio. Quase-cidadão: histórias e antropologias
da pós-emancipação no Brasil. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007.
PRICE, Richard. Africans discover America: the ritualization of gardens, landscapes, and seascapes
by Suriname Maroons. In: CONAN, Michel; CALAME, Claude; PRICE, Richard. Sacred
Gardens and Landscapes: Ritual and Agency, Dumbarton Oaks & Harvard University Press,
Washington, DC & Cambridge, MA, p. 221-238p, 2007.
LIMA et al. Territorialidade negra no espaço transnacional entre Brasil e Guiana Francesa: o caso da comunidade quilombola Kulumbu do Patuazinho
(1990 a 2021).
CADERNOS DO LEPAARQ - VOLUME XIX - NÚMERO 38 - JULHO-DEZEMBRO/2022 189
QUEIROZ, Jonas Marçal de; COELHO, Mauro Cezar. Amazônia-modernização e conflito. Belém:
UFPA/Naea, 2001.
QUEIROZ, Jonas Marçal & GOMES, Flávio dos Santos. Amazônia, fronteiras e identidades: Reconfigurações
coloniais e pós-coloniais (Guianas-séculos XVIII-XIX). Lusotopie, Paris: CNRS, v.
, n. 1, p. 25-49, 2002.
SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. O fim do silêncio: presença negra na Amazônia. Belém: Editora AÇAÍ/
CNPq, 2011.
SCHWARTZ, Stuart B. Mocambos, quilombos e Palmares: a resistencia escrava no Brasil colonial.
Estudos Econômicos (São Paulo), v. 17, n. Especial, p. 61-88, 1987.
SOUZA, Manoel Azevedo de. Identidade quilombola na Fronteira entre o Amapá e Guiana Francesa.
Comunicação apresentada na V Reunião Equatorial de Antropologia e da XIV Reunião de
Antropólogos do Norte e Nordeste sediado na Universidade Federal de Alagoas/Instituto
de Ciências SociaisICS|UFAL/Centro Universitário Tiradentes, Maceió: UFAL, 2015. Disponível
em: https://evento.ufal.br/anaisreaabanne/gts_download/Manoel%20Azevedo%20
de%20Souza%20-%201019751%20-%204042%20-%20corrigido.pdf p. 1-16. Acessado em
/09/2021.
SUPERTI, Eliane & SILVA, Gutemberg Vilhena. Comunidades Quilombolas na Amazônia: construção
histórico-geográfica, características socioeconômicas e patrimônio cultural no Estado
do Amapá. Confins (Online). Revue franco-brésilienne de géographie/Revista franco-brasileira
de geografia, Paris/São Paulo: USP/CNRS, n. 23, 2015. Disponível em https://journals.
openedition.org/confins/10021 p. 1-19. Acessado em 20/8/2020.
TASSINARI, Antonella Maria Imperatriz. No bom da festa: o processo de construção cultural das
famílias Karipuna do Amapá. Edusp, 2003.
TRINDADE, Liana. Prefácio. In: FERRETTI, Mundicarmo Maria Rocha. Maranhão Encantado: encantaria
maranhense e outras histórias. São Luís: UEMA, 2000.
URIARTE, Urpi Montoya. O que é fazer etnografia para os antropólogos. Ponto Urbe. Revista do
núcleo de antropologia urbana da USP. São Paulo: Núcleo de Antropologia Urbana da USP,
n. 11, 2012.
VIDAL, Lux Boelitz. O modelo e a marca, ou o estilo dos” misturados”. Cosmologia, História e