Freudianism Philosophie and Gestalt according Merleau-Ponty
Resumo
No presente artigo eu apresento e discuto uma hipótese de leitura, segundo a qual, com o propósito de pensar a gênese do sentido na experiência vivida sem precisar, para tanto, recorrer ao expediente da transparência reflexiva assegurada pela ideia de um eu puro, Merleau-Ponty promove um deslocamento no modo de emprego da noção de Gestalt, a qual passa a ser lida a partir da teoria freudiana do inconsciente pulsional. Interpretada a partir da psicanálise, entretanto, a noção de Gestalt deixaria de abordar o vivido desde um ponto de vista descritivo e assumiria um ponto de vista dinâmico, que Merleau-Ponty (1964 a, p. 165) denominará de ontológico, o qual, a sua vez, terá efeito sobre a própria apropriação merleau-pontyana da psicanálise. Mais além da antropologia, a psicanálise, enquanto leitura gestáltica (ou ontológica) do modo como se articulam os vividos, tornar-se-ia uma forma de filosofia (MERLEAU-PONTY, 1964a, p. 323), a apresentação do Ser enquanto um processo de diferenciação entre significantes encarnados, os quais configurariam um “simbolismo primordial”. E meu interesse maior, com essa hipótese, é dimensionar até que ponto, com essa estratégia de aproximação entre operadores gestálticos e psicanalíticos, Merleau-Ponty dá conta de resolver um problema que ele próprio enfrentou em sua forma de compreender como é possível haver singularidade num contexto de produção de todos de sentido espontâneos e genéricos. Tal significa perguntar: em que sentido a noção de todo gestáltico esclarece o que seja intimidade que, por exemplo, a psicanálise julga poder ouvir de cada qual?
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