O MITO, A PÁTRIA AMADA E O INIMIGO: LAMPEJOS FASCISTAS NO DISCURSO ELEITORAL DE 2018

Cristiano Sandim Paschoal

Resumo


Considerando o recrudescimento de valores intolerantes no espectro sociopolítico do Brasil contemporâneo, o presente artigo tem como objetivo investigar o modo pelo qual a axiologia fascista do inimigo da pátria foi mobilizada pelo discurso da atual extrema direita brasileira nas eleições de 2018. Ancorando-se nos pressupostos teórico-metodológicos bakhtinianos, foram mobilizadas as noções de dialogismo, ideologia e enunciado concreto, tendo como objeto de escrutínio o último programa eleitoral projetado discursivamente pelo candidato representante da extrema direita, Jair Messias Bolsonaro. Visto que o enunciado, sob a ótica dialógico-discursiva, possui como inerência um magnetismo axiológico, durante o movimento analítico, observou-se que o projeto enunciativo do candidato atraiu para sua semântica os valores fascistas de heroísmo e passado mítico nacional, de modo a construir uma noção axiológica envergada de inimigo nacional.


Palavras-chave


Valores fascistas; propaganda eleitoral de 2018; inimigo nacional; enunciado concreto; Teoria bakhtiniana.

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DOI: https://doi.org/10.15210/cdl.v0i41.21510



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