Escrever, ler, ensinar: cruzamentos entre escrita criativa e formação de professores de literatura

Resumo

Se a área da Escrita Criativa, em seu atual estágio de desenvolvimento no Brasil, ainda está prioritariamente voltada para um público interessado em construir uma carreira de escritor – que procura formações desse tipo com o intuito de praticar, de forma mais sistemática e aprofundada, a escrita literária –, não significa que as experiências e reflexões produzidas em seu seio nada tenham a oferecer às licenciaturas em Letras, tanto aos estudantes – futuros professores de literatura – quanto aos docentes. Neste trabalho, busco justamente estabelecer relações entre a Escrita Criativa e a formação de professores de literatura, valendo-me da produção acadêmica de ambas as áreas. Parto da constatação do desinteresse pela prática da escrita no ensino universitário de literatura, associando tal desinteresse à concepção tradicional de ensino vigente nos cursos de Letras do país e refletindo sobre seus impactos no ensino escolar, com base em estudos de Bordini e Aguiar (1983), Castanho (2012), Cosson (2009), Dalla Bona e Martins (2016), Mazanatti (2007), Segabinazi (2011) e Segabinazi e Lucena (2016). Em seguida, discuto dois aspectos centrais para campo da Escrita Criativa: a metodologia da oficina, a partir de Ander-Egg (1991), e o caráter indissociável e solidário entre escrita e leitura que se estabelece em uma oficina de escrita, segundo Dawson (2005) e Houdart-Merot (2018b, 2019). Destaco, por fim, a relevância da prática da escrita literária durante o percurso formativo do futuro professor de literatura, conforme abordada por Sant’Anna (1977) e Antunes (2015), e assinalo a pertinência das contribuições da Escrita Criativa para se repensar o ensino de literatura na universidade.