A LITERATURA INFANTIL EM PERIGO: POLÍTICAS PÚBLICAS E O CONTROLE DA LEITURA
Resumo
Neste artigo, propõe-se uma reflexão sobre a concepção de literatura dos editais do Programa Nacional do Livro e do Material Didático – PNLD Literário 2018 e 2020, por meio da análise de seus protocolos de leitura. Apresenta-se ainda um breve percurso histórico da literatura infantil, para melhor compreendermos suas características e transformações. Dessa forma, realiza-se pesquisa bibliográfica e documental, tendo como fundamentação teórica as abordagens historiográficas de Marisa Lajolo, Regina Zilberman, Nelly Novaes Coelho, Edmir Perrotti e Rildo Cosson. Os critérios referentes à qualidade literária estabelecidos pelo programa valorizam uma concepção pedagógica que cerceia a autonomia dos professores, promove um controle da ficção (e, consequentemente, da recepção) e desfigura a obra literária, vetando sua condição estética. Em relação à materialidade das obras, o programa impõe a padronização das características gráfico-editoriais dos livros, o que revela uma concepção desmaterializada da literatura, promove o apagamento e desvalorização dos profissionais envolvidos na elaboração de tais projetos (como ilustradores, designers e editores) e ainda reforça a aproximação do livro literário às cartilhas e materiais paradidáticos.
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PDFReferências
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DOI: https://doi.org/10.15210/cdl.v0i38.19865
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