O AUTOR COMO ARQUIVISTA: MEMÓRIA, PÓS-MEMÓRIA E ARQUIVO EM “O ESPÍRITO DOS MEUS PAIS CONTINUA A SUBIR NA CHUVA”, DE PATRICIO PRON

Carla Carolina Moura Barreto, Tatiana da Silva Capaverde

Resumo


O presente trabalho tem como principal objetivo analisar o romance autoficcional O espírito dos meus pais continua a subir na chuva (2011), de Patrício Pron, a fim de pensar as relações entre memória, pós-memória, esquecimento, ficção e arquivo. Partindo disso, busca-se compreender como a memória do narrador-personagem é construída e representada, bem como sua relação com o passado histórico argentino, de modo a destacar o caráter arquivístico do romance, que se revela como um arquivo de memórias. Para tanto, utiliza-se como principal base teórica Bergson (2010); Ricoeur (2007); Todorov (2000); Sarlo (2007) e Derrida (2001). Com base nessa discussão teórica, observa-se como memória, história e ficção se unem na obra em um trabalho árduo de rememoração, de reconstituição e de reinvenção da vida e como o narrador, através de seu texto, cumpre um “dever de memória”, ao transmitir a outros o legado de seus antepassados.

Palavras-chave: Memória; pós-memória; ficção; arquivo; ditadura militar argentina.


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DOI: https://doi.org/10.15210/cdl.v0i37.18528



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