Reflexões sobre (des)locamentos da produção acadêmica: dos modelos (táteis) que representam um patrimônio arquitetônico aos modelos (EPIs) que representam um cenário de pandemia
Resumo
O presente artigo apresenta reflexões sobre o processo de deslocamento de produção científica e tecnológica, no âmbito de um projeto na área de representação gráfica e digital, ocorrido após o cancelamento das atividades acadêmicas presenciais devido à pandemia COVID-19. Tal produção estava dirigida ao projeto e execução de jogos didáticos relativos ao patrimônio arquitetônico de Pelotas, com o intuito de sua valorização e difusão, utilizando-se de modelos táteis deste Patrimônio. Estas atividades foram sendo permeadas e conduzidas para a produção de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) destinados aos profissionais da saúde, para o enfrentamento da pandemia. Ambas as ações envolvem o uso de tecnologias de representação e fabricação digitais, ainda em processo de apropriação no campo formativo de arquitetura, contexto em que se configura esta reflexão. Para pensar e problematizar tal deslocamento, a reflexão se apoia nas teorias de Ann S. Masten, sobre contextos e processos de resiliência social, na teoria da “sociedade de risco” de Ulrich Beck e em escritos de Eduardo Galeano, os quais, em sintonia com os demais, abordam o medo como inibidor de ações resilientes na sociedade moderna. Tais abordagens auxiliam a compreender este (des)locamento, interpretado como potencializador da formação acadêmica e ativador de novas dinâmicas de produção. A experiência formativa, envolvendo a fabricação digital, desde a produção de modelos táteis a de EPIs, de representações de interesse didático e cultural a representações de interesse social, tem provocado reorganizações e conexões intra e interinstitucionais, exigindo a ampliação da capacidade de resiliência de cada um dos atores envolvidos, para o enfrentamento coletivo de riscos e medos frente à realidade, preparando para a atividade profissional junto à complexidade contemporânea.
Texto completo:
71-89Referências
BECK, U. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. Traduzido por Sebastião Nascimento. 1ªed. São Paulo: Editora 34, 2010.
BORDA, A. Tactile narratives about an architecture´s ornaments. In: XXI Congreso Internacional de la Sociedad Iberoamericana de Gráfica Digital, 2017, Concepción. Blucher Design Proceedings. São Paulo: Editora Blucher, 2017. v. 3. p. 439-444.
FARIA, J. N.; OLIVEIRA, M. M. Sistemas Dinâmicos de Informação: Modos de promover a resiliência e combater a supremacia do indivíduo produtor sob o indivíduo interpretador. In: XXI Congreso Internacional de la Sociedad Ibero-americana de Gráfica Digital, 2017, Concepción. Blucher Design Proceedings. São Paulo: Editora Blucher, 2017. p. 41-47.
GALEANO, E. De Pernas pro Ar: a escola do mundo ao avesso. Porto Alegre: L&PM, 1999.
GALEANO, E. O livro dos Abraços. Porto Alegre: L&PM, 2013.
MASTEN, A. S. Global Perspectives on Resilience in Children and Youth. Revista Child Development. Puerto Rico, n. 1, jan./fev. 2014. Disponível em: . Acesso em: 18 mai. 2020.
PALLASMAA, J. Los Ojos de la Piel: La Arquitectura y Los Sentidos. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SL, 2ª edición, 2016.
Apontamentos
- Não há apontamentos.