DO DIAGNÓSTICO A INTERVENÇÃO: A OBRA “RETRATO FEMININO” DE J. MACHADO – 1876

Larissa Rodales da Fonseca, Andréa Lacerda Bachettini

Resumo


O trabalho em questão baseia-se na restauração da pintura em óleo sobre tela, de dimensões 73 cm de altura e 58 de largura, denominado incialmente por “Retrato Feminino”. Este projeto de restauração teve início no segundo semestre de 2017 no Laboratório de Conservação e Restauração de Pinturas do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas. O empenho neste trabalho objetivou elaboração de toda a trajetória das intervenções realizadas na obra como trabalho de conclusão de curso requisito da avaliação da disciplina de Seminário de Orientação. A obra “Retrato Feminino” de autoria do autor português J. Machado datada de 1876, informações estas que podem ser notadas na própria obra, por conter assinatura e sua datação. Ainda que tenhamos essas referências, houve uma busca dificultosa de dados sobre o autor. Com essa objeção se pensou em seguir a metodologia de Bárbara Appelbaum, juntando todas as informações existentes e documentando-as da melhor forma. Esse gênero de pintura, o retrato, acaba muitas vezes por ser esquecido, desvalorizado com passar do tempo. Acabando por não haver mais a significação/identificação a quem lhes pertence. Que de certa forma ocorreu com a essa obra, pois, a aquisição da obra pelo proprietário atual deu-se através de um leilão. Sendo assim, por tratar-se de um retrato, iniciamos pela sua definição que se caracteriza por uma representação de uma figura individual ou de um grupo, elaborada a partir de modelo vivo, documentos ou até mesmo com o auxílio da memória. A utilização e significado desse gênero da pintura na História da Arte tem inúmeros significados e utilizações. Buscou-se analisar sobremodo o bem através da sua história e trajetória; o bem como, seu valor cultural. Analisando os materiais e técnicas utilizada afim de diagnosticar e intervir na obra de fato.  Como o proposito inicial do trabalho se caracterizava pelo diagnóstico da obra, objetivando, posteriormente, criar uma proposta de intervenção que visa devolver a integridade física, histórica e estética do “Retrato Feminino”.  Esse diagnóstico configura todo o estudo da obra, historicamente e cientificamente através de exames, exames de luz rasante, transmitida, UV; microscopia em pontos específicos; testes de pH, solubilidade. Denotando uma quantidade considerável de imagens de registro dessas etapas, essas fazendo parte do registro fotográfico da obra, que é de suma importância na sua documentação. Na intervenção, pós proposta, ela tem sentido de algo prático, etapa essa que se inicia a restauração. Através da realização do tratamento estrutural da obra como a higienização mecânica e química; faceamento; o reentelamento; fixação da camada pictórica; reintegração cromática e a aplicação da camada de proteção; esses termos e etapas citadas serão melhor exemplificados e expostas no decorrer do trabalho.  A pesquisa científica se fez necessária em todos os processos desse trabalho, principalmente antes de inicia-lo com o intuito de investigação e estudo. Buscando bibliografias sobre pintura, têxtil e papel, assim como outros que poderiam auxiliar no estudo, como os preceitos da conservação e restauração, algumas definições e terminologias.  Nisso se fez necessário uma revisão bibliográfica dos materiais e técnicas utilizadas no que tange o tema do trabalho, a pintura. Como também teóricos que evidenciam o tema sobre conservação como Camilo Boito, Cesare Brandi, Salvador Muñoz Viñas, entre outros.  Nesses estudos tentou-se adotar a mínima intervenção que se define por critérios menos invasivos de práticas sobre a obra, entretanto, pelo estado de conservação da obra se fez necessário a utilização de práticas mais invasivas, por não haver outra opção a fim de manter a integridade física e estética da obra.  Como método de pesquisa foi bibliográfica, envolto de muitas teorias se faz necessário pensar na decorrência de cada escolha tomada, entretanto, escolhas fundamentadas e justificadas. No que corresponde ao estado de conservação da obra “Retrato Feminino” pode-se dizer que foi um eminente desafio essa intervenção, pelo elevado estado de degradação da obra notado principalmente na camada pictórica, com grandes perdas, devido aos craquelês (rachadura na camada superficial da pintura) em boa parte da obra, fazendo se necessário urgentemente um faceamento com papel japonês e utilizando para colagem CMC (Carboximetilcelulose) espécie de goma utilizado para diversos fins. Seguidamente, com a desmontagem da obra, foi se descobrindo outros fatos não notados anteriormente na obra, retirando então a obra da moldura e seguidamente do bastidor, se iniciou a limpeza mecânica, nisso se percebeu um reentelamento, processo “consiste em fazer aderir um tecido protetor no reverso do suporte têxtil do quadro” (PASCUAL, 2003, pag. 103), que na obra feito com o tecido juta e aderido provavelmente por uma pasta de farinha comumente utilizada antigamente. Pela teoria estudada esse tecido não caracteriza um bom tecido para um reentelamento, por ser um tecido de má qualidade gerando acidificação do tecido bem como na obra, essa então, seria uma intervenção anterior notada com a desmontagem da obra. Após evidenciar essa ação anterior decidiu-se pela retirada da juta, a remoção mecânica da pasta de farinha utilizada na colagem do tecido. Logo após a retirada da juta, notamos outra possível causa de tamanha degradação da pintura foi a observância de um papel na borda de toda pintura, um papel muito fino provavelmente papel kraft conhecido por papel de embrulho e possui grau de acidez elevado (PASCUAL, 2006). Há sempre uma inquietação sobre as intervenções anteriores vistas em uma obra, se o feito favoreceu ou não a estabilidade, sobrevivência da obra. Outra questão é a reversibilidade das execuções, o autor que questiona esses fatos justificando essas ações é o Salvador Muñoz Vinãs, questão que roteia um conflito conceitual nos processos de restauro.  Esse trabalho, portanto, aborda os diferentes momentos da restauração, bem como sua documentação, desde o contexto histórico, pesquisa acerca da trajetória da obra, que traduz muitas vezes causas da degradação.


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